CAPÍTULO XIII Das freguesias de São Bento, Ribeirinha, Porto Judeu e curato da Feteira São Bento No extremo oriental da cidade de Angra, a partir do Largo de São Bento, onde outrora existiu uma das portas da cidade, começa a freguesia de São Bento com 1:323 habitantes e 356 fogos, estendendo-se, em pequena parte pela estrada litoral da ilha, e por outra, sobre uma pequena elevação sobranceira à cidade, até ao Pico Redondo, um dos limites da freguesia. Neste último trajeto atravessa os pequenos bairros de Val-de-Linhares e São Luís, com numerosas casas térreas e pequenas, mas alegres e regularmente limpas. Uma ou outra casa se destaca pela sua grandeza e qualidade de terreno que a circunda, e que noutros tempos, que não vão longe, constituíram as habitações estivais de alguns proprietários da cidade; mas, no geral, são pequenas e pobres os seus inquilinos. Logo no princípio da freguesia, encontra-se a igreja paroquial, restaurada, em parte, no ano de 1901, e que fora elevada a paróquia em 1572. A sua arquitetura exterior, além de ser antiga, é medíocre e acanhada: interiormente, tem uma só nave, ao fundo da qual está a capela-mor, com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, tendo do lado do evangelho a imagem de São Beato, orago da igreja, e da epístola, a de Santo António. No corpo da igreja, vê-se uma capela do lado do evangelho, com a imagem, de grande valor e veneração, do Senhor Jesus dos Milagres; e do lado da


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epístola, uma outra, com o Coração de Jesus, tendo aos lados as imagens de São Francisco de Assis e São Mateus. Subindo a extensa ladeira, que começa próximo à igreja, chega-se ao lugar denominado o Salto, de onde se desfruta um bonito panorama da parte oriental da cidade, e perto do qual passa uma ribeira denominada de São Bento, que por vezes se torna caudalosa nas épocas das grandes chuvas, a qual, próximo do largo de São Bento, se une a uma outra denominada dos Calrinhos, que separa a freguesia de São Bento da cidade. Logo acima do Salto, encontra-se a importante fábrica da Empresa Angrense de Destilação, de que mais adiante falaremos, e que está situada bem a meio do bairro de Val-de-Linhares. Um pouco acima, depara-se com um pequeno largo, denominado de São Luís, com uma ermida do mesmo nome, contígua à casa do morgado Pacheco, cuja descendência se acha representada no cavalheiro angrense António Veríssimo dos Santos Pacheco. Nesta pequena ermida, está a imagem do orago São Luís. Continuando a subir a encosta de que falámos, deparamos com um largo espaçoso, denominado do Reguinho, onde começam três estradas uma, para o oriente, denominada a Canada da Ribeirinha, que vai terminar na freguesia deste nome; uma para o ocidente, terminando no lugar denominado a Pateira e conhecida polo nome de Estrada do Reguinho; e finalmente a terceira dirigida para nordeste, seguindo a íngreme encosta do Pico Redondo, e terminando no lugar denominado a Achada, onde se notam os restos de um pequeno templo construído em 1843, em terreno do falecido Visconde de Bruges, com o fim de constituir mais tarde um curato sufragâneo da freguesia de São Bento. Ou porque a altitude se tornasse inóspita ao homem, ou o terreno se mostrasse impróprio para a edificação das casas, o que é facto, é que pouca duração teve esta igreja, da qual apenas existe a sineira e as paredes exteriores. Esta freguesia comunica com a da Ribeirinha pela estrada litoral e Canada da Ribeirinha, com o interior da ilha pelo lugar da Achada e Reguinho, e com a cidade, pelo largo de São Bento. Não tem indústria própria nem comércio. Os seus habitantes, na maioria pobres, entregam-se ao mister de cabreiros ou carretadores de lenhas do interior da ilha para os fornos. Ribeirinha A dois quilómetros, pouco mais ou menos, do portão de São Bento, e caminhando pela estrada litoral do nascente, começa a freguesia da Ribeirinha, situada na encosta da serra do mesmo nome, e uma das mais populosas do concelho de Angra.


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Chegando-se à ermida de Santo Amaro, encontra-se, à esquerda, uma estrada um pouco íngreme, que nos conduz ao centro da freguesia, e que vai terminar na serra, constituindo a rua principal da freguesia. Ao centro fica a igreja paroquial, cuja fundação se ignora; apenas se sabe que em 1486 constituía um curato sufragâneo da matriz de São Sebastião, e em 1568 era já paróquia independente, segundo se depreende da carta régia de 30 de julho daquele ano. Este templo, que se acha voltado as poente, tem sofrido modificações importantes, devidas ao impulso e zelo dos seus últimos vigários; e conquanto a sua arquitetura exterior seja pouco elegante, o seu interior é alegre e vistoso, e está dividido em três naves. Ao fundo, na capela-mor, vê-se ao centro uma boa imagem de Santo Cristo dos Milagres, tendo aos lados as imagens de São João Baptista, São Pedro, orago da igreja, Santo António e São Paulo. Descendo da capela-mor, em cujo arco se vê, do lado da epístola, a imagem de Santo Antão, e do evangelho a de Santa Águeda, penetra-se no corpo da igreja, bastante espaçoso e iluminado, com um pequeno coro alto sobre o para-vento da entrada. No corredor, do lado do evangelho, vê-se ao fundo a capela do Santíssimo Sacramento, edificada pelo atual vigário da freguesia o Reverendo Padre João Augusto da Silva Furtado, e mais abaixo, a capela de Nossa Senhora do Rosário. No corredor do lado da epístola, há uma só capela com a imagem de Nossa Senhora da Conceição e o Sagrado Coração de Jesus. Por detrás da igreja paroquial fica um pequeno cemitério, que acaba de ser condenado por não ter as dimensões necessárias que satisfaçam à população e por ficar sobranceiro a um grande número de casas. A rua principal da freguesia, denomina-se Rua da Igreja, larga e em plano inclinado, conduz-nos à serra, denominada da Ribeirinha, onde se desfruta um lindo panorama, abrangendo toda a cidade e parte da costa oeste da ilha. Desta rua partem várias outras mais pequenas, e paralelamente a ela, passa uma ribeira com a direção norte-sul, geralmente conhecida pelo nome de Ribeira do Gato, e indo terminar no lugar denominado o Timão. No começo da freguesia, e à beira da estrada, fica o lugar denominado de Santo Amaro, com uma ermida do mesmo nome, cuja fundação é anterior a 1717, pois que o Padre António Cordeiro já a ela se refere na sua História Insulana. Este templo, reconstruido e ampliado em 1902, tem a imagem de Santo Amaro, de grande devoção em toda a ilha. Esta freguesia comunica com a cidade, pela estrada litoral; e com a freguesia de São Bento, pela Canada da Ribeirinha de que já falámos. Possui a Canada do Capitão, Canada do Barro Vermelho, que vai terminar na Feteira, Canada dos Rabos, que parte da antecedente e vai à Estrada Real, e finalmente as canadas do Lameirinho, do Cota e do Mato. A sua população é de 2:950 habitantes, distribuidor por 791 fogos.


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A indústria principal é a dos lacticínios, e conta já quatro fábricas de desnatação do leite, cujo produto é preparado em Angra. Possui também um grande número de teares antigos, cujos preparados servem para consumo do povo da freguesia. O seu comércio é em gado, trigo, milho, e até à pouco, era abundante e extensa a cultura da batata-doce, que hoje acabou, por se ter interrompido o fabrico do álcool. Feteira No extremo leste da freguesia da Ribeirinha, e a perto de dois quilómetros distante dela, fica o lugar denominado da Feteira, cujo terreno, em grande parte de biscoito, está hoje preenchido por um grande número de casas, constituindo um curato sufragâneo da freguesia da Ribeirinha desde 1863. Em 1590, pouco mais ou menos, quando neste lugar existiam meia dúzia de casas, o vigário Baião, da freguesia da Ribeirinha, construiu, à sua custa, uma pequena ermida na Canada das Vinhas, sob a invocação de Nossa Senhora das Mercês, com o fim de ali dizer missa na época das vindimas. Mais tarde, como a população tendesse a aumentar, ou talvez por conveniências particulares, foram-se construindo algumas casas, e como ficassem longe da sua igreja, cotizaram-se para que um sacerdote dissesse a missa na ermida de Nossa Senhora das Mercês, que então já pertencia a Inácio Toste Parreira, abastado proprietário da Ribeirinha, e que depois foi falecer pobre nos Estados Unidos da América do Norte. Tendo aumentado rapidamente a população daquele lugar, solicitaram do Governo a criação de um curato, o que alcançaram por Decreto de 10 de setembro de 1863, sendo seu orago Nossa Senhora das Mercês. Mais tarde resolveu-se construir uma outra igreja, de maiores dimensões, à beira da estrada, começando os trabalhos em 1866 e terminando em 1868. Mais tarde, em 1877, completou-se a torre deste novo templo, cujo orago é Nossa Senhora da Consolação. É de uma só nave, tendo na capela-mor a imagem de Nossa Senhora, oferecida pelo cidadão João Vaz Dinis, tendo aos lados as imagens de São José e Santo Antão. Descendo da capela-mor, encontram-se mais duas pequenas capelas: uma, do lado da epístola, com as imagens de Nossa Senhora de Lourdes, Coração de Jesus e São Francisco; a outra, do lado do evangelho, com a imagem do Bom Jesus, tendo aos lados as imagens de Santo Antão e de São João Baptista Machado. Um pouco distante da igreja, fica o cemitério, à beira da estrada, e com capacidade para cem sepulturas. Nada mais tem de notável este pequeno povoado, que talvez em breve seja elevado a freguesia autónoma, pelo acréscimo que nestes últimos anos tem tido a população.


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Os seus habitantes não têm comércio nem indústrias especiais, e entregam-se aos rudes trabalhos do campo. Porto Judeu Começa esta freguesia no Marco do Biscoito da Feteira, e termina na Canada das Ladeiras. Compõe-se de duas partes: uma, situada ao longo da estrada litoral; e a outra, à beira-mar, num plano muito inferior à outra, mas comunicando com ela por uma boa estrada de macadame. É à beira-mar que está a parte principal da freguesia, cujo orago é Santo António, e de criação anterior a 1502. A paroquial é de construção antiga; e pelas irregularidades que nela se notam, ou foi construída em diversas épocas ou então sofreu vários estragos causados talvez pelo mar que lhe está muito próximo, não se seguindo o plano primitivo nos reparos efetuados. O seu interior é pouco elegante: ao fundo, na capela-mor, vê-se por cima do Sacrário, uma boa imagem de Nossa Senhora da Conceição, tendo aos lados as imagens de Santo António, orago da igreja, e a de São Pedro, padroeiro da classe marítima. Descendo desta capela, notam-se três capelas do lado do evangelho: a primeira, do Santíssimo Sacramento; em seguida a das Almas com a imagem de Cristo Crucificado; e por último, uma capela funda, com uma linda e respeitável imagem de Jesus dos Passos, tendo aos lados Nossa Senhora de Lourdes e São Francisco. Do lado da epístola, estão só duas capelas: a primeira, cujo retábulo tem grande merecimento artístico, tem ao centro a imagem de Nossa Senhora da Saúde, e, aos lados, as imagens de São José e do Menino Jesus; a segunda, construída em 1889, é funda e tem no seu camarim a imagem do Sagrado Coração de Jesus e aos lados Santo Amaro e Santo Antão. Próximo da igreja, e à distância de cem metros, está o cemitério com duzentas sepulturas, afora o campo destinado para crianças e não católicos, mas que de há muito reclama ser mudado por estar muito à beira-mar. Em frente à igreja, e caminhando para oeste, está um estreito caminho com algumas casas, e quase no seu limite uma boa ermida com uma só capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Esperança. Ignora-se a data da sua construção; porém já existia em 1650, porque naquele ano, por testamento de Isabel Gouveia, segunda mulher de André Gato Coelho, foi legada, entre outras coisas, a casa dos romeiros, que hoje já não existe, com um alqueire de terreno que ficava defronte da dita ermida. Esta freguesia comunica com a cidade, pelo ramal que vai terminar na Estrada Real n.° 1 e com a freguesia de São Sebastião, que fica para leste,


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pelo Caminho da Vila e pelo Refugo. À beira-mar existe um outro caminho, que vai ter à Salga e de lá a São Sebastião. Neste lugar, que se tornou notável na célebre batalha da Salga, quando os espanhóis tentaram a conquista da ilha em 1581, existem ainda, como relíquias, as ruínas do Forte da Salga e do Reduto, acabados de construiu pelo célebre governador Ciprião de Figueiredo, defensor leal de D. António Prior do Crato. Nesta freguesia existe também o Forte de Santo António, da mesma data, e que está em melhor estado de conservação. A freguesia é atravessada por duas ribeiras, de norte a sul: a principal, chamada do Testo, caminha ao lado do ramal da estrada de que acima falámos; e a outra, de menor importância, tem o nome de Ribeira simplesmente. A população desta freguesia é de 1:793 habitantes, distribuídos por 469 fogos. A indústria principal é a piscatória, e o comércio reduz-se ao de peixe fresco e seco. A agricultura principal é a de cereais.


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