CAPITULO LXI

 
Um projecto
 

Jantei triste. Não era a falta do relogio que me pungia, era a imagem do autor do furto, e as reminiscencias de criança, e outra vez a comparação, e a conclusão... Desde a sopa, começou a abrir em mim a flor amarella e morbida do cap. XXV, e então jantei depressa, para correr á casa de Virgilia. Virgilia era o presente; eu queria refugiar-me nelle, para escapar ás oppressões do passado, porque o encontro do Quincas Borba tornara-me aos olhos o passado, não qual fora devéras, mas um passado roto, abjecto, mendigo e gatuno.

Saí de casa, mas era cedo; iria achal-os á mesa. Outra vez pensei no Quincas Borba, e tive então um desejo de tornar ao Passeio Publico, a ver se o achava; a idéa de o regenerar surgiu-me como uma forte necessidade. Fui; mas já não o achei. Indaguei do guarda; disse-me que effectivamente «esse sujeito» ia por alli ás vezes.

— A que horas?

— Não tem hora certa.

Não era impossivel encontral-o n’outra occasião; prometti a mim mesmo lá voltar. A necessidade de o regenerar, de o trazer ao trabalho e ao respeito de sua pessôa enchia-me o coração; eu começava a sentir um bem-estar, uma elevação, uma admiração de mim proprio... Nisto caía a noite; fui ter com Virgilia.