A distração faz das suas. Hoje, vindo da cidade para casa, passei por esta, e dei comigo no Largo do Machado, quando o bonde parou. Apeei-me, e antes de arrepiar caminho, a pé, detive-me alguns instantes, e enfiei pelo jardim, em direção à Matriz da Glória, a olhar para a fachada do templo com a torre por cima. Fiz isto porque me lembrou a conversação da outra noite no Flamengo.

A poucos passos, duas senhoras pareciam fazer a mesma coisa. Voltaram-se, eram nada menos que Fidélia e D Carmo; estavam sem chapéu, tinham vindo a pé de casa. Viram-me, fui ter com elas. Pouco dissemos: notícias do barão, que está melhor, e do Aguiar, que está bom, e despedimo-nos.

Vim para o lado do Catete, elas continuaram para o da matriz. A pequena distância, lembrou-me olhar para trás. Poderia fazer outra coisa? É aqui que eu quisera possuir tudo o que a filosofia tem dito e redito do livre-arbítrio, a fim de o negar ainda uma vez, antes de cair onde ele perde a mesma aparência de realidade; acabaria esta página por outra maneira. Mas não posso; digo só que não pude reter a cabeça nem os olhos, e vi as duas damas, com os braços cingidos à cintura uma da outra, vagarosas e visivelmente queridas.