Hoje foi a última recepção dos Aguiares, e eu quis despedir-me dos viajantes que embarcam depois de amanhã. Bastante gente, entre ela o Faria e D. Cesária, e a viúva do corretor Miranda, ainda abatida. A nota geral da noite não era alegre, ao contrário: todos buscavam ir pelo tom da casa, que era tristonha. A própria Fidélia parecia definhar-se ao pé da amiga, e uma vez a mana Rita a foi achar que dizia à outra:

— D. Carmo, por que não vem conosco? Ainda é tempo de comprar bilhetes, e se os não houver, Tristão adia a viagem, e vamos no outro paquete.

D. Carmo respondia que não; sentia-se cansada e abatida.

— Viagem não cansa, e lá chegando cria alma nova.

Rita juntou o seu voto ao da moça, e ambas teimaram com ela, mas não puderam nada. Como última razão, vinha a separação do marido, razão velha e parece que decisiva. Rita notou que as duas estavam sinceramente desconsoladas, mas D. Carmo buscava fortalecer-se, enquanto que Fidélia não acabava de vencer o desgosto.

— Olhe, mano, eu ainda creio que ela desfaz a viagem...

Era no escuro, à vinda da praia; por isso a mana não me pôde ver o gesto incrédulo, mas certamente o adivinhou e trocou o que disse. "Não, que desfaça não digo, mas daria muito para não ter consentido em partir”. Repetiu-me as palavras que Fidélia lhe disse de D. Carmo, chamando-lhe boa e santa, "a santa Aguiar".

Confesso que vim de lá aborrecido; preferia não ter ido, ou quisera ter saído logo. Tristão vem cá almoçar comigo amanhã.