"Vieram-lhe o amor e a poesia, no
declínio da vida. Na mocidade, foi
de costumes austeros. Aos cinqüenta
e um anos, conheceu Vittoria Colonna;
escreveu para ela canções, sonetos,
madrigais, exaltação do cérebro,
temperada de misticismo; ela admirou-
o, mas não o amou. Quando Víttoria
morreu, Buonarrotti beijou a mão do
''cadáver, não ousando beijar-lhe a fronte."
(M. MONNIER - La Renaíssance.)


E pensava: - "Perder a chama peregrina,
Que extrai da pedra um Deus, do barro imundo um Santo;
E este punho, que alçou a cúpula divina

De São Pedro, e amassou "Moisés" de luz e espanto;


E esta alma, que arquiteta os mundos na oficina:
O "Dia", força e graça, e a "Noite", sombra e encanto,
E o "Juízo Final" da Capela Sixtina
E "Judit", flor de sangue, e "Pietà", flor de pranto;



Tudo: tinta, pincel, escopro, camartelo,
Ouro, fama, poder, glória, gênio, virtude,
- Por um milagre só, no amor que me abandona:


Morrer, e renascer ardente, moço, belo,
E, como o meu "Davi", clarão de juventude,
Aparecer, sorrindo, a Vittoria Colonna!"