Quando o menino adormeceu José, aproximando-se de Maria, perguntou-lhe baixinho: “Se vira as três virgens que cercaram o infante ungindo-o de luz?”
A Imaculada respondeu no mesmo tom discreto:
- Logo que sai do sono, ainda antes de ver meu filho, dei com elas, imóveis, aclarando toda a caverna, de joelhos diante do recém-nascido.
Não falavam. Não sei quem são. Desapareceram de repente como as estrelas desaparecem.
- Seriam anjos? Uma serena voz, saindo das pedras, falou no silêncio:
- A primeira é toda a crença do homem: é a virtude que leva a alma à presença do Altíssimo.
Antes da vinda do Messias era a névoa indecisa que resplandecia e obumbrava-se; agora é a luz pura e perene, a luz viva que guia ao paraíso através de todos os abrolhos, por meio dos mais árduos sofrimentos, vencendo as mais perversas tentações, sempre direita, inflexível e segura. É a fé.
O seu olhar não se desvia, a sua linguagem é a prece, a sua confiança é Deus. É a mais forte da três. A segunda é uma consoladora. Parece um reflexo da primeira: É a esperança.
Veste-se de ilusões, recama-se de sonhos para distrair a alma, livrando-a do desespero. É como o ramo verde que se inclina à borda dos abismos. É a divina miragem que, através das agruras da vida, reanima o coração combalido, criando perspectivas venturosas.
Só, é uma encantadora que vive a inventar maravilhas, ligada à fé é a precursora que desbrava o caminho para a travessia da alma.
Sem ela a miséria seria um flagelo, a dor seria intolerável. É uma força feita de sonho. Isolada é a fantasia.
A terceira é o amor, é a lágrima que se converte em misericórdia, é a bondade onipotente, a meiguice que salva, a resignação que remite, a paciência que conforta, a lã que agasalha, o linho que estanca o sangue, o lume que aquece.
É o conjunto amoroso de todas as beneficências – a caridade.
São as três irmãs que acompanham o Messias.
Ele tomou-as ao paganismo e converteu-as transmitindo-lhes a sua essência.
Eram as Cárites, são as Virtudes. Foram as Graças, são as beneficiadoras.
Com elas Jesus fará a redenção do homem.
Para combater o mal, podendo trazer as legiões adamantinas, trouxe os humildes.
Calou-se a voz e os dois olharam-se maravilhados.
- Não ouviste falar?
- Sim, meu senhor, falaram. As ovelhas estavam de pé e olhavam, como se também procurassem o misterioso interlocutor.
Mas o menino agitou-se no leito palhiço, estendeu os bracinhos e chorou.
Presto, Maria tomou-o ao colo, aconchegou-o cobrindo-o com o manto.
- Deve ser frio, disse José.
- Fome, talvez, disse Maria, ansiosa por dar o peito farto ao pequenino filho.