Não obstante a sua origem, e os seus meios de fortuna, o Rafael Benevides era, positivamente, um rapaz que não levava muito alto as suas ambições. A mãe, a aristocrática Dona Tereza Benevides, censurou-o, por mais de uma vez:
— És um toleirão! Então um rapaz como tu, bonito, rico, educado, vai olhar para uma burguesa como a Lili Monteiro, quando tens no alcance da tua mão criaturas como a Edith Soutello, como a Iaiá Thompson, e outras meninas de educação e de fortuna?
Essa observação materna acordou no Rafael o desejo de fazer um casamento vantajoso. E, como, dos melhores, preferia o melhor, moveu os olhos, logo, para a Julieta Faria gama, orgulhosíssima filha do visconde de Faria Gama, que era, além de uma das maiores herdeiras do Rio, uma das mais formosas criaturas da cidade.
Resolvido a possuir aquele magnífico pedaço de mulher, Rafael aproveitou uma ocasião em que a moça se encontrava só, na sala de música dos Moura Baima, e caiu-lhe aos pés, ajoelhado no tapete:
— Julieta, amo-te!
A essas palavras, que eram mais um grito, a moça ergueu a cabeça, soberba:
— Que faz o senhor para chegar ao meu coração?
Ante essa resposta, que era um insulto, Rafael sentiu a necessidade da vindita.
— Eu não quero chegar ao teu coração, Julieta! — gemeu.
E, de joelhos, com os olhos no tornozelo da moça:
— Eu não quero chegar tão alto...