Morreste, Ninfa bela,
na florescente idade:
nasceste para flor,
como flor acabaste.
Viu-te a Alva no berço,
a Véspora no jaspe,
mimo foste da Aurora,
a lástima da tarde.
O nácar, e os alvores
da tua mocidade
foram, se não mantilhas,
mortalha a teus donaires.
Oh nunca flor nasceras,
Se imitando-as tão frágil,
no âmbar de tuas folhas
te ungiste, e te enterraste.
Morreste, e logo Amor
quebrou arco, e carcases;
que muito se lhe faltas,
que logo se desarme?
Ninguém há neste monte,
ninguém naquele vale,
o cortesão discreto,
o pastor ignorante:
Que teu fim não lamente,
dando aos quietos ares
já fúnebres endechas,
já trágicos romances.
O eco, que responde
a qualquer voz do vale,
já agora só repete
meus suspiros constantes.
A árvore mais forte,
que gemia aos combates
do vento, que a meneia
ou do raio, que a parte,
Hoje geme, hoje chora
com lamento mais grave
forças da tua estrela
mais que a força dos ares.
Os Ciprestes já negam
às aves hospedagem,
porque gemendo tristes,
andarn voando graves.
Tudo enfim se trocou,
montes, penhas, e vales,
o penedo insensível,
o tronco vegetável.
Só eu constante, e firme
choro o teu duro transe,
o mesmo triste sernpre
por toda a eternidade.
Ó alma generosa,
a quem o Céu triunfante
usurpou a meus olhos
para ser lá deidade.
Aqui onde o Caípe
já te erigiu altares
por Deusa destes montes,
e por flor destes vales:
Agrário o teu Pastor
não te forma de jaspes
sepulcro a tuas cinzas
túmulo a teu cadáver.
Mas em lágrimas tristes,
e suspiros constantes
de um mar tira dois rios,
de um rio faz dois mares.