Mulher que tanto amei, e que amo ainda

Armia, oh! não te exponhas
De um Numen ao furor,
Se as leis d’amor não cumpres,
Teme o poder d’amor!

Bocage.


Mulher que tanto amei, e que amo ainda,
Não sei se Nume ou Deusa, Arminda minha,
Anjo, Nympha, Mulher, meu ser na vida,
Ai — recebe o meu só nascido d’alma
Amoroso suspiro e terno e forte,
Da mais negra saudade trasbordando,
Qu’em aridos torrões da terra sua,
D’Africa adusta o miserando Vate,
Nas aureas azas de suave brisa,
Saudoso e melancolico t’envia!

Em um monte d’arêas formulado
No seu cume assentado e só, e triste,
De saudades a mente acalentando,
E no rigor de um sol ardente e forte,
A ti meus ais, a ti meu pranto envio!

Ahi — aonde habitas, tão distante
Do teu unico amor qu’então dizias,
Ahi, onde feliz gozei outr’ora
Dos mais primados gozos de ventura,
Que a um céu d’amor extasiados,

Presos em corpo, e alma — ambos bem juntos,
Descrendo desta vida — o mundo inteiro
Em ti só resumido eu divisava;
E eu era o teu Anjo a quem só qu’rias;
Ahi — quem sabe, se o teu peito ainda
Soluçando por mim arfa constante!
Quem sabe se algum verme venenoso
Corroeu-t’o, infeliz, — tornou-te ingrata!
Ou tambem se d’astuto aventureiro,
Fementido e fallaz, e vil cobarde
Um outro amor no adyto do peito
T’infiltrou, e de mim ousado zomba,
Em teus braços só meus, só meus outr’ora!!
Mas não! — neste delirio eu crer não posso,
Que mais do que perjura então serias,
Tu fôras barb’ra — deshumana fôras!

Quer junto a aridas plagas —
Quer a frondoso coqueiro —
Quer em bosque emmaranho,
Quer no cimo de um outeiro, —

Quer vivendo léda vida —
Quer carpindo imiga sorte —
As minhas juras d’amor
Guardarei até á morte.

Alada mensagem
Me venha vida —
Arminda és fiel —
Fiel té morrer!

E a sorte choremos
Que avessa nos é —
Mas não blasphemos —
Vivamos co’a Fé!