Um dia, passando na estrada, ouvi dois rapazitos que falavam muito alto: «Não, dizia um com voz enérgica, não quero.» Parei e perguntei-lhe:—O que é que tu não queres, meu rapaz?—«Não quero dizer à mamã que venho da escola, porque é mentira. Sei que me há-de ralhar, mas antes quero que me ralhe do que mentir.»—E tens razão, disse-lhe eu. És um rapaz como se quer.» Apertei-lhe a mão, enquanto que o outro pequeno, que lhe aconselhava que se desculpasse mentindo, ia-se embora todo envergonhado.
Daí a alguns meses, passando pela mesma aldeia e tendo de falar com o professor, entrei na escola, onde reconheci imediatamente os meus dois pequenos; o que não quis mentir, sorria-me, enquanto que o outro, vendo-me, baixou os olhos. Ao despedir-me interroguei o mestre sobre os dois alunos: Oh! disse-me ele, falando do primeiro, é um magnífico estudante, um pouco teimoso, mas honrado, sincero, sempre pronto a confessar as suas faltas e o que é ainda melhor, a repará-las. O outro pelo contrário, é mentiroso, covarde e incorrigível.»—Não me espanto, disse eu, já tinha tirado o horóscopo destas duas crianças; e contei-lhe o que tinha ouvido.