A esta cantiga alheia:
Na fonte está Lianor
Lavando a talha e chorando,
Às amigas perguntando:
Vistes lá o meu amor?
Mil sinais nela se vêm
De sua tristeza e cuidado:
Chorar, perguntar «se vem»?
E olhar desassossegado.
Leva-lhe os olhos o amor
Que lhe foi a alma levando,
E ela por eles chorando
Pergunta por seu amor.
Detém-se em lavar a talha
Por desculpar sua tardança,
E não quer que a dele valha
Para perder a lembrança.
Chora, e diz com grande dor
Sem sentir que está falando:
«Vai-se-me a vida acabando
Porque não vem meu amor!»
Inda que lhe a água faltara
Da fonte, nada lhe dera,
Que a dos olhos lhe bastara
Para quanto falecera.
Sobeja-lhe em tudo dor,
Vai-lhe todo bem faltando,
E diz já desconfiando:
«Cedo morrerá Lianor!»