"Para lá e para cá, um ao lado do outro, passeavam, passadas medidas e demoradas, no terraço dos Bandeira Mendes, o jovem mundano Felício Prata e o suntuoso capitalista Moreira da Cunha. Dentro, no interior do palacete, que fervilhava de cavalheiros e senhoras, a Orquestra Pearson atacava músicas sentimentais, arrastando a alma para o sonho e os corpos, unidos, para o meio das salas iluminadas. Indiferentes àquilo tudo, porque não dançavam, os dois continuavam a passear, nas suas casacas irrepreensíveis, fumando charutos de custo, quando o capitalista parou, de repente, diante da porta que dava, através do jardim de inverno, para uma das salas de dança. Felício parou também, olhando na mesma direção, despreocupadamente.

— Linda festa! Não? — observou o mundano.

— Muito bonita! — confirmou o outro.

E após um momento de silêncio:

— Quem é aquela pequena?

— Qual?

— Aquela de cabelo aloirado, que está da cor de rosa, dançando com o Bordalo? Bonita moça!

— Interessa-te? — indagou Prata acendendo outro charuto.

— A mim, mesmo, não. Quem me falou nela, perguntando quem era, foi o comendador Borges.

— O Costa Borges?

— Sim; o do Banco das Hipotecas.

Felício acendeu, em silêncio, o seu charuto, puxou-lhe duas fumaças, e guardou a caixa de fósforos. Feito isso bateu no ombro do amigo:

— dize-me uma coisa: isso rende?

— Isso, o que?

— Uma paixão do Costa Borges.

— Por que perguntas? — indagou o outro, intrigado com aquele interesse.

O rapaz tirou o charuto da boca, olhou para um lado, olhou para o outro, com ares misteriosos.

— É porque... — aventurou.

E ante o espanto do outro:

— Eu sou o marido dela!