D’amiga existência tão triste, e cansada,
De dor tão eivada, não queiras provar;
Se a custo sorriso desliza aparente
Que mágoas não sente, que busca ocultar!?...
Os crus dissabores que eu sofro são tantos
São tantos os prantos, que vivo a chorar,
É tanta a agonia, tão lenta e sentida,
Que rouba-me a vida sem nunca acabar.
D’amiga a existência
Não queiras provar,
Há nela tais dores,
Que podem matar.
O pranto é ventura,
Que almejo gozar;
A dor é tão funda,
Que estanca o chorar.
Se intento um sorriso,
Que duro penar!
Que chagas não sinto
No peito sangrar!...
Não queiras a vida
Que eu sofro — levar,
Resume tais dores
Que podem matar.
E eu as sofro todas, e nem sei
Como posso existir!
Vaga sombra entre os vivos, — mal podendo
Meus pesares sentir.
Talvez assim Deus queira o meu viver
Tão cheio de amargura,
P’ra que não ame a vida e não me aterre.