Na manhã do dia 13 suspendemos âncora em direção à ilha da Jamaica, fundeando no mesmo dia na baía de Port-Royal.
Denso nevoeiro envolvia, como uma gaze alvíssima, as altas montanhas que orlam majestosamente a antiga colônia espanhola.
Ao aproximarmo-nos da pequena e elegante cidade de Port-Royal, pedimos prático o qual nos levou a Kingston.
O brasileiro que, depois de longa ausência do Brasil, chega à Jamaica sente logo um prazer especial, um frêmito de patriotismo, ao contemplar as soberbas montanhas da ilha, tanto elas lembram a natureza do nosso país. A baía, salpicada de interessantes ilhotas de verduras, verdadeiras ilhas flutuantes, em cujas águas imóveis bandos de aves ribeirinhas ostentam sua plumagem garrida e multicolor, voando duma margem à outra numa contradança animada, oferece aspectos lindíssimos. Jamaica parece um pedaço do Brasil transplantado para as Antilhas, tal a opulência da sua natureza.
É a maior e a mais florescente das colônias inglesas da América depois de Barbados. Mede aproximadamente quarenta léguas de comprimento.
Kingston não é uma cidade como Bridgetown, onde a cada passo depara-se com uma prova de adiantamento material. É, por assim dizer, uma capital morta, quase sem comércio, mas, em compensação, muito mais pitoresca que a capital de Barbados. Os habitantes são morigerados, e uma paz religiosa parece reinar no seio de cada família.
Há mais pobreza, é certo, mas incomparavelmente o povo é mais educado, mais pronunciado o instinto de civilização.
Muitas estátuas. Vimos as de Lewis Quier Bower Bonk, nascido em 1815, Edward Jordon, um dos principais fundadores da – Jamaica Mutual Life Assurance Society, Sir Charles Theophilus Metcal, governador em 1845 – todas ao redor de um parque. Isso prova quanto respeito infunde ao inglês o nome de um compatriota célebre.
Um brasileiro estabelecido em Kinsgton disse-nos ser o Almirante Barroso o primeiro navio brasileiro que aí aportava desde 1871.
Nossa demora em Jamaica foi rápida como em Barbados. Telegramas oficiais do Rio apressavam-nos cada vez mais. Já se havia inaugurado a Exposição de Nova Orleans; era-nos forçoso assistir ao menos o encerramento. Estávamos convictos de que o cruzador brasileiro ia figurar com brilho no importante certame americano. Tanto em Bridgetown como em Kingston não lhe faltaram elogios de pessoas competentes.
Todos ansiávamos pela chegada ao país maravilhoso dos ianques, ao berço da eletricidade, todos queríamos conhecer de visu o celebrado país das descobertas engenhosas.
Desde logo entramos, de combinação, em “sérios” estudos do idioma inglês praticando uns com os outros, compulsando manuais de conversação, decorando significados, preparando-nos, enfim, da melhor forma, para retribuir gentilezas, captar amizades, responder a todas as perguntas que nos fossem feitas à queima-roupa. Sim, porque tudo quanto havíamos aprendido teórica e praticamente na Escola, não era bastante. Faltava-nos a facilidade, o traquejo da palavra estrangeira, que havíamos de adquirir à força de vontade e aplicação assídua.
Alguns oficiais, entre os quais o comandante, riam-se do nosso apuro, e, de vez em quando, atiravam-nos de surpresa uma pergunta em inglês. Quanto disparate, quanta tolice a princípio! O certo é que depois, com o tempo, já nos entendíamos sofrivelmente. Noblesse oblige...