CENA DOMÉSTICA.

Tête sacrée! enfant aux cheveux blonds!

V. Hugo.

Ela estava sentada em meus joelhos
E brincava comigo - o anjo louro,
E passando as mãozinhas no meu rosto
Sacudia rindo os seus cabelos d'ouro.

E eu, fitando-a, abençoava a vida!
Feliz sorvia nesse olhar suave
Todo o perfume dessa flor da infância,
Ouvia alegre o gazear dessa ave!

Depois, a borboleta da campina
Toda azul - como os olhos grandes dela -
A doudejar gentil passou bem junto
E beijou-lhe da face a rosa bela.

- Oh! como é linda! disse o louro anjinho
No doce acento da virgínea fala -
Mamãe me ralha se eu ficar cansada
Mas - dizia a correr - hei de apanhá-la! -

Eu segui-a chamando-a, e ela rindo
Mais corria gentil por entre as flores,
E a - flor dos ares - abaixando o vôo
Mostrava as asas de brilhantes cores.

Iam, vinham, à roda das acácias,
Brincavam no rosal, nas violetas,
E eu de longe dizia: - Que doidinhas!
Meu Deus! meu Deus! são duas borboletas!...

Dezembro - 1858.

LXIV

RISOS.

Ri, criança, a vida é curta,
O sonho dura um instante.
Depois... o cipreste esguio
Mostra a cova ao viandante!

A vida é triste - quem nega?
- Nem vale a pena dizê-lo.
Deus a parte entre seus dedos
Qual um fio de cabelo!

Como o dia, a nossa vida
Na aurora é - toda venturas,
De tarde - doce tristeza,
De noite - sombras escuras!

A velhice tem gemidos,
- A dor das visões passadas -
A mocidade - queixumes,
Só a infância tem risadas!





Ri, criança, a vida é curta,
O sonho dura um instante.
Depois... o cipreste esguio
Mostra a cova ao viandante!

Rio - 1858.