Versão de 1676 editar

No retiro de Belem,
Casa de campo real,
Hoje o Principe Divino,
Hum jardim de flores faz.

Hum laberinto de glorias,
Aqui se vè num portal,
Donde naõ sabe sahir,
Aquelle que chega a entrar.

No Meyo estaõ do Jardim,
Duas fontes de cristal,
Cuja Mãy de agoa fechada,
He a pura Virgem Mãy.

De hum satiro que he o peccado,
Invençaõ de aljofar sae,
Que a hum Minino de alabastro,
Faz este monstro chorar.

Em hum enbrechado que o tempo,
Nas eras formando està,
Hum amor se vè ao vivo,
Inda que feito ao mortal.

Aly està hum grande lago,
Que ninguem pòde sondar,
Onde as Angelicas Aves,
Fazem Choro Celestial.

A verdade està despida,
Retratada ao natural,
E em hũa mesma figura,
Se vè a Justiça, & a paz.
 
A belleza de hũa Virgem,
Faz hum fermoso rozal,
E os espinhos que lhe faltaõ,
O cravo lhos quis tomar.

As flores por infinitas,
Naõ se podem numerar,
Vertendo sangue està o Cravo,
O Jasmim cegando vay.

Saõ sem conto as maravilhas,
As Angelicas sem par,
O Amor perfeito sem preço,
A Perpetua sem igual.

A naturesa he a salva,
As chagas amor as traz,
Que de muitos mal me queres,
Se vem ellas a formar.

Aqui se vem tres figuras,
De tres Reyes Orientaes,
Que o Senhor deste jardim
Fabricou pelo adornar.

Hum he de porfido negro,
Outro de fino metal,
Outro de Cedro incurrupto,
Pelos olores que dà.






A este Jardim de dilicias,
Almas todas caminhay,
A colher flores da gloria,
Que vivem sem se murchar.

Estribillo.

Quem quizer colher flores,
A Belem parta.
Que hum Minino de amores,
Todas retrata.
Jesus que favor!
Que o minino de flores,
He a mesma flor.

Coplas.

A colher estas flores,
A Belem vamos,
Que o Minino que nace,
He a flor do campo.

Todo he feito de flores,
Este Minino,
E serà brevemente,
Flor dos martyrios.

Seus crespinhos cabellos,
Junquilhos de ouro,
Junto as fontes de prata,
Lhe nacem todos.

Sempre he pura, & nevada,
A limpa testa,
Sobre dous olhos de agoa,
Branca açusena.

De seus olhos Divinos,
Saõ as mininas,
Com rocios de aljofar,
As maravilhas.

He o naris, destas flores,
Qual ramalhete,
Canutilho de prata,
A que se prendem.

De carmin he a boquinha,
E os dentes brancos,
Como em perolas da Alva,
Cravo encarnado.

Duas Rozas as faces,
Se hoje de nacar,
Ande ser algum tempo,
Bem violadas.






Na garganta que as veas,
Azuis diviza,
Forma o azul, & o nevado,
As campaynhas.

Em as maõs generosas,
Brancas, & bellas,
Jà os cravos abertos,
Tem as maõs cheas.

Tem os pès piquininos,
Bem divididas,
Como jasmins de neve,
Sinco folhinhas.

Estas flores se colhem,
Em Belem todas,
Com que amor tece as palmas,
E faz as Coroas.

Estribillo.

Quem quizer colher flores,
A Belem parta.
Que hum Minino de amores,
Todas retrata.
Jesus que favor!
Que o minino de flores,
He a mesma flor.

Versões de 1701 e 1707 editar

No retiro de Belem
Caza de campo real,
Hoje o Principe Divino
Hum jardim de flores faz.

Hum laberinto de flores,
Aqui se vè num Portal,
Donde naõ sabe sahir
Aquelle que soube entrar.

No meyo deste Jardim
Ha humas fontes de cristal,
Cuja Mãy de agoa fechada,
He a pura Virgem Mãy.

De hum satyro, que he o peccado
Invençaõ de aljofar sae,
Que a hum Minino de alabastro
Faz este monstro chorar.

Em hum embrechado, que o tempo
Nas eras formando està,
Hum Amor se vè ao vivo,
Inda que feyto ao mortal.











A Bellesa de huma Virgem
Faz hum fermoso rosal,
E os espinhos, que lhe faltaõ
O Cravo veyo a tomar.






As flores saõ infinitas,
As Angelicas sem par,
O Amor perfeyto hum feitiço,
A perpetua celestial.

A natureza he a salva,
As chagas Amor as traz,
Que de muytos malmequeres
Se vem ellas a formar.

Aqui se vem tres figuras
De tres Reyes Orientaes,
Que o Senhor deste jardim
Mandou trazer de Sabà.

Hum he de porfido negro,
Outro de rico metal.
De calambuco o terceiro
Pelas fragrancias que dà.

O que aqui ha mais que ver
E que mais que tudo val,
He hum Minino de flores
Que hoje Amor quiz encarnar.

A velo, almas, curiosas,
Voae, correy, caminhae,
Achareis hum Paraizo
Melhor do que o terreal.

Estribillo.

Quem quiser colher flores
A Belem parta,
Que o Minino de amores,
Todas retrata.
Ay Jesus, que favor!
Que o Minino de flores,[1]
He a mesma flor.

Coplas.

A colher estas flores
A Belem vamos,
Que o Minino que nace,
He flor do campo.

Todo he feyto de flores
Este Minino,
E serà brevemente
Flor dos martyrios.

Seus crespinhos cabellos
Junquilhos louros
Sobre as fontes de prata
Parecem ouro.[2]

Toda he pura & nevada
A branca testa,
Juntos a dous olhos de agoa
Clara açucena.

De seus olhos divinos
Saõ as mininas
Com os rocios de aljofar[3]
As maravilhas.

He o nariz destas flores
Lindo & decente
Canutilho de prata
Com que se prendem.[4]






Duas rozas as faces,
Se hoje de nacar.
Ande ser algum dia
Bem violadas.

Saõ duas clavelinas
A breve boca,
Se ri a caso seus dentes
Aljofar mostra.

Na garganta que as veas
Azuis devisa
Forma o azul, & o nevado
As campainhas.

Saõ as mãos generosas
Largas, & bellas
Desta floresta as palmas
Que atè o Ceo chegaõ.

Tem os pès pequininos
Bem divididas,
Como jasmins nevados
Sinco folhinhas.

Estas flores se colhem
Em Belem todas,
Com que amor tece as palmas,
Para as Coroas.

Notas editar

  1. Na versão de 1707: "Que o Minino de amores"
  2. Na versão de 1707: "Parecem de ouro."
  3. Na versão de 1707: "Com os rocios da Aurora"
  4. Na versão de 1707: "Com que se prende."