Ataque ao delegado. No hotel

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Coronel Lapa despertou o ódio dos jagunços. Eles tentaram matá-lo enquanto dormia

Nas cidades pioneiras do velho Oeste, visitantes passageiros e empreendedores tinham duas opções: ficavam nos carroções e acampavam ou recorriam a uma pousada precária, normalmente cheia de pulgas e outros desconfortos, que se assumia como “hotel”.

Foz do Iguaçu teve o benefício do apoio que seu primeiro prefeito, Jorge Schimmelpfeng, deu ao turismo, o que garantiu à fronteira instalações de melhor qualidade. Cascavel teve a seu favor a aviação civil, pois os aviadores se recusavam a ficar em alguma hospedaria improvisada e exigiram um estabelecimento de bom padrão – e dessa exigência resultou o Hotel Americano, o “cinco estrelas” na década de 50, predileto não só entre os aviadores mas também a opção de juizes, promotores, negociantes de terras e... jagunços. Elio Willy Fauth contou, no ensaio Cascavel, 1960:

– Tiroteios entre jagunços e posseiros eram quase que diários. Nunca entre pistoleiros e policiais, pois os primeiros eram como que auxiliares dos segundos. Normalmente hospedados em hotel, os proprietários comentavam entre si a necessidade de fazer com que suas terras fossem desocupadas com rapidez, pois tinham um bom negócio em vista. Não por acaso, aparecia alguém, sempre vestindo um casaco de couro e que se introduzia na conversa, dizendo que conhecia uma pessoa que poderia resolver o problema, mas que o assunto deveria ser resolvido reservadamente. A sós, o homem do casaco de couro – evidentemente um pistoleiro ou chefe de jagunços – perguntava ao dono da terra se a sua “carteira tinha ouvido a conversa”. Fechava-se o negócio da desocupação da terra. Passados alguns dias, o proprietário podia levar o eventual comprador para uma vistoria em que não era encontrado nem intruso nem rancho.

O célebre coronel João Rodrigues da Silva Lapa, que por duas vezes foi delegado especial de polícia de Cascavel, também se hospedou no Hotel Americano. Sua missão era “limpar” a região de jagunços e também dos posseiros, que além de invadir terras, enfrentavam os jagunços e a polícia a bala. Mas da mesma forma que Lapa estava disposto a enfrentar os jagunços a “unha”, eles estavam dispostos a enfrentar o comandante da Polícia Militar em qualquer terreno.

Lapa, no entanto, esperava ser atacado numa tocaia, que era o principal meio de ataque dos posseiros e dos jagunços, indiscriminadamente, sempre em ação no interior. Jamais imaginaria que eles estavam tão dispostos a enfrentá-lo que chegaram até a atentar contra sua vida na ação mais ousada de que se tem notícia.

Um pistoleiro atacou Lapa no interior do Hotel Americano, em Cascavel, onde ele se hospedava, segundo conta o professor Paulo Rodrigues Pompeu, o Dodô. O jagunço não obteve sucesso na empreitada, mas mostrou ao caçador de jagunços que ele também poderia se tornar a caça em caso de descuido.

Os hotéis de Cascavel se tornaram a residência habitual de muitos pioneiros por vários motivos. Primeiro, eram baratos e familiares. Segundo, ninguém sabia se realmente iria permanecer no lugar, pois não havia como prever até quando a madeira, que reconstruía a Europa devastada pela guerra, iria ter mercado favorável. E faltava estrutura para tudo.

O grande agente da estruturação de Cascavel, aliás, foi o madeireiro Florêncio Galafassi, que chegou a Cascavel em 1948 e ficou dois anos morando no Hotel Gaúcho, de Pedro Zandoná, até decidir construir sua residência que confirmaria sua disposição de permanecer na região.

O advogado Antônio Pereira Tomé, pai do atual prefeito de Cascavel, Lísias de Araújo Tomé, recém-formado pela Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro de Uberaba (MG), veio para Cascavel por influência do irmão, Alcides Pereira, que já residia aqui, ficou morando em hotel por muito mais tempo. Foram oito meses até conseguir uma casa para alugar, pois na época era mais fácil (e rápido) construir uma casa que alugá-la.

Um fracasso e um sucesso

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Como toda tentativa de empreender um ramo de negócios nos tempos do desbravamento era de altíssimo risco, houve quem fracassou ao tentar um negócio seguro e quem lucrou ao tentar a empreitada menos recomendável da época.

O Hotel Monte Castelo foi construído em Iguaçu, hoje Laranjeiras, então capital do Território Federal do Iguaçu. Era uma das obras mais bonitas do TFI, digna, realmente, de uma capital. Destinava-se a abrigar as autoridades federais e os viajantes mais requintados. O TFI fracassou e o hotel foi vendido apressadamente a um “incauto”, que não percebeu na época o mau negócio de comprar um hotel de alto padrão numa vila sem o menor atrativo para hóspedes de alto poder aquisitivo. O incauto era ninguém menos que Casemiro Domareski, que depois se tornaria um dos grandes nomes da hotelaria em Foz do Iguaçu. Mas em Laranjeiras, confessou ele, “me deu uma besteira na cabeça de comprar um hotel lá mesmo, o Hotel Monte Castelo”.

Mas houve uma família que se meteu num lugar remoto, literalmente no meio do mato, com escassas chances de sucesso. Era a família Rafagnin que, a exemplo da família Domareski, é hoje uma das mais tradicionais e bem-sucedidas de Foz do Iguaçu. Os Rafagnin se meteram na pequena e escondida Corbélia, então localidade pertencente a Cascavel, por terem a informação de que no interior do Paraná havia um lugar muito promissor.

Filomena Morello Rafagnin lembrou, em depoimento ao jornalista Juvêncio Mazzarollo: – Fomos a São João da Urtiga (RS) tocar um bar com mesa de bilhar e lanchonete. Ali, alguém veio com a idéia de que lugar de futuro era o Paraná. O lugar indicado era Corbélia. Meu marido (Olímpio) veio ver e gostou. Achou que era um lugar de futuro para nós e nossos filhos. Fizemos a mudança em 1959. Corbélia era um vilarejo no meio do mato. Chegamos sem ter onde morar. Conseguimos uma casinha de madeira, construímos um hotel. Foi um bom negócio. Tinha boa freguesia porque na região havia muitos cafezais. Vinham negociantes de café de São Paulo, Rio Grande do Sul e se hospedavam em nosso hotel. Depois foram para Foz do Iguaçu e a história do sucesso da família é conhecida.

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Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo.