Requeiro oh Musa,
Do grande Urbino,
Pincel divino,
D’alto rojão;
De Tasso o genio,
De Homero a fama,
Que o mundo acclama,
D’aurea feição.

Que cantar quero,
Vibrando o plectro,
Com doce metro,
Ancho balão;
Erguendo aos ares
Novas espheras,
Tontas megeras,
De rubição.

Guapos rapazes,
Velhos caducos,
Sandeus, malucos,
Por devoção;
Que, por pachólas,
O siso despem,
E á moda vestem,
Lá do Japão.

Rompa-se a marcha!
Eis um capenga,
Que untada a quenga
Traz de sabão;
Andar cadente,
No gesto grave,
E grossa trave
Tem por bastão!

O’ que prosapia!
Traja com gosto,
Tem o composto
De um figurão!
Vem atacado,
E tam rotundo,
Que affronta o mundo,
Com seu balão!

Desfez-se o homem,
E não é peta,
Fez-se planeta,
— De Escorpião —
Tem gaz na pança,
Suspiro e bomba,
— Astro de tromba,
Luz de alcatrão!

Olá! que vejo!
Qual nivea estrella,

De luz singela,
Tem o clarão!
Mimosa fada,
Que os genios doma,
Ampla redoma,
Do Indostão!

Faz mil requebros,
Gentil donzella,
Qual rosa bella
Contra o tufão;
Salta e corcova,
Como charrua,
Quando fluctua,
Sem capitam!

Silencio! é ella!
Tam vaporosa
Vem, e formosa,
— Que treme o chão!
Gordo cetaceo,
Deixando os mares,
Que affronta os lares
Sobre um balão!

Eu te saúdo,
Oh tartaruga,
Bomba taruga,
De barracão!
Monstro que alojas,
Sob os babados,
Dez mil soldados,
Do rei Plutão!

Planeta aquario,
Veloz, possante,
Que vaga errante,
Sem região;

Pharól tremente,
D’estreita barra,
Que o leme emparra,
Do galeão.

Diz a gazetta,
(Caso de fama)
Que certa dama,
N’uma função,
Fora atacada,
De flato horrivel,
Que a poz hirtivel,
No raso chão.

Dose mancebos
A carregaram
E collocaram
Sobre um colchão,
E a castidade,
Sem offenderem,
Para fazerem,
Fomentação;

Foram tirando,
Sem causar maguas.
Fofas anaguas,
De camelão;
Curvadas molas,
Arcos de pipa,
Cordas de tripa,
E um rabecão.

Caixas de guerra,
Rouco zabumba,
Que além retumba,
Como trovão;
Felpuda palha
Para viveiros,

Dous travesseiros,
E um trombão.

Eis que debaixo,
Do tal babado,
Pula espantado,
De supetão,
Tremendo gato,
Mirando, afflicto,
Mais esquesito,
Que um sacristão!

Bradaram todos —
Que era feitiço,
Ou malificio,
De Phaetão,
Chamou-se logo,
Para o sinistro,
Certo ministro,
Do alcorão.

Chega o bojudo,
Doctor Trapaças
Que tem fumaças,
De sabichão;
Pega na penna,
Lavra a receita,
— Para maleita —
Chá de gervão.

Suspira a moça,
No brando leito,
De novo aspeito.
Se amostra então;
Era a doença,
Pobre innocente,
A lava ardente,
Do seu balão!

Casos de estrondo,
Já se tem visto,
Que aqui registo,
Do tal balão,
Attendam todos,
Não façam bulha,
Que tem borbulha.
A narração.

Se algum marujo,
Fino tratante,
Faz-se de impante
Politicão;
Muda de credo,
Vira a casaca,
— O gaz ataca,
No seu balão.

Mas si perdendo
A tramontana,
Qual Zé banana,
Pilha o tufão;
Foge ao perigo,
Deixa a catraya,
Buscando a praya,
E’ charlatão.

Inda que berre,
Inda que brade,
Qual rubro frade,
Com mao sermão;
Um povo inteiro,
Lhe diz em face:
E’s um fallace
Camaleão.

Se na fachada,
De um bom marido,

Que foi trahido,
Surge um pulmão;
Exclama a esposa,
Que sam esguichos,
Ou tubos fixos,
Para o balão!

Quem tal diria,
Que na fachada,
Tam respeitada,
Do cidadão;
Se assestariam.
Torcidas molas,
Curvas bitólas,
Para o balão!...

Rengas moçoilas,
De pernas finas,
Teem lamparinas,
Oleo e carvão;
Para empinarem,
O bojo enorme,
Do desconforme,
Monstro balão

Tambem a velha,
De gambia esguia,
Traz por mania,
Fôfo balão;
Mas, rôta a bomba,
E’ qual sanfona,
Que zune e trona,
De cantochão.

Boçaes donzellas,
Finas varetas,
Magros cambetas,
Teem seu balão;

Gaz hydrogenio,
Tam sublimado,
Que, destampado,
Faz de trovão!

Não ha cegonha,
Torta gazela,
Nem magricela,
Que de balão;
Não faça rodas,
Com tal rebojo,
Que vence, em bojo,
Nescio pavão!

Nem rapazola,
Parvo e pedante,
Que todo impante,
Qual histrião;
Não julgue ousado.
Pobre pichote,
Ser Dom Quichote,
Sobre o balão!...

E tu, oh genio,
Sublime e raro,
A quem deparo,
N’esta invenção;
Nas aureas lettras
Da sabia historia,
Verás a gloria —
Na exposição.