Um dos maiores orgulhos do Antônio Viana de Meireles era aquela barba negra, cerrada, que ele trazia inteira, como o dr. Abreu Fialho, o dr. Estelita Lins ou o dr. Arrojado Lisboa. No ministério, onde era 2º escriturário, puseram-lhe o apelido de Frei Antônio. Ele achava, porém, que aquela moldura lhe ficava bem ao carão moreno, de olhos pardos e nariz aquilino, e atribuía tudo aquilo à mísera inveja dos rapazolas imberbes.
O que contrariava o Meireles era, entretanto, a solidariedade da esposa, a graciosa Dona Marina, com aqueles pelintras da Secretaria. Não que a jovem senhora lho dissesse, zombando dele; mas pela indiferença com que o abraçava, e, sobretudo, pela repugnância com que afastava o rosto claro toda vez que ele se aproximava para beijá-la.
Magoado com semelhante ojeriza, resolveu o Viana de Meireles fazer, um dia, uma surpresa à esposa: foi a um barbeiro, raspou a cara, e, leve, o rosto fresco, tocou-se para casa, antegozando o prazer que ia dar, naquela tarde, à sua mulherzinha.
Ao bater à porta, a moça correu a abrir, saltando-lhe ao pescoço, com beijos famintos, gulosos, desesperados.
— Está satisfeita, minha filhinha, por ver-me assim... Não é? Gemeu o rapaz, comovido de gratidão,
A essas palavras os beijos cessaram como por encanto. Pálida, olhos arregalados, Dona Marina recuou dois passos.
— Antônio, és tu? — gritou, horrorizada.
E olhando-o, estupidificada, limpando a boca, num horrível desapontamento:
— Eu nem te reconheci!...