Rema, rema, gondoleiro,
Que bem me faz teu remar,
Corta as vagas, rema, rema,
Prestes corre sem parar.
Solta a véla, cassa a escola,
Deixa o batel voar,
Qu’este andar tão vagaroso
Crua dôr me faz penar.
Que t’importa o rijo vento
Que tão forte vae soprar? —
Solta a véla, gondoleiro,
Corre e vôa sem parar.
Que t’importa o furacão,
E essas ondas a brigar?
Rema, rema, gondoleiro
P’ra o logar que t’indicar.
Vae ao porto do destino
Em que a sorte me fadou
Procurar quem só de amores
Cruelmente me matou.
Quem tambem a vida e a morte,
E o coração me roubou,
Esse anjo que na terra
Minh’alma idolatrou.
Quem venturas só do Ceo
Magamente m’infiltrou
A mim, que louco d’amor,
Louco e insano me tornou.
Rema, rema, gondoleiro,
Que bem me faz teu remar,
Corta as vagas, rema, rema,
Corre e vôa sem parar.
Porém não! — Cassa a vela,
Leva remos, gondoleiro,
Eis o porto do meu fado
Do meu fado derradeiro.
Vou cumprir uma missão —
Não sei mais se voltarei
Nunca digas, gondoleiro,
As vozes que aqui soltei!