Coelho Neto — "Revista da Academia Brasileira de Letras", n° 12, de abril de 1913.
O grupo de boêmios de que faziam parte Bilac, Murat, Coelho Neto, Guimarães Passos, Pardal Mallet, Paula Ney e outros, atravessava a sua fase luminosa, quando, um dia, ao chegarem estes à pensão em que morava Aluísio Azevedo, o encontraram com os olhos vermelhos de chorar. Tinha-lhe morrido a mãe no Maranhão, e o romancista, além de outras preocupações, estava a braços com a do luto, impossível na ocasião pela absoluta falta de dinheiro. A única roupa que possuía era um terno cinzento, absolutamente inútil naquela emergência.
Guimarães Passos havia chegado, porém, recentemente de Alagoas, e era dono de um terno preto, destinado a grandes cerimônias. Correu à casa, e trouxe-o, para emprestar ao amigo, enquanto este arranjava outro.
Passou-se, entretanto, o primeiro mês. Passou-se o segundo. Passou o terceiro, e Aluísio sem devolver ao dono o terno preto, em que se metia diariamente. Guimarães Passos não suportou mais a demora; plantou-se, uma tarde, à rua do Ouvidor, ao lado de Coelho Neto e Alcindo Guanabara, e, à passagem do autor d' O Mulato, que vinha com a sua roupa emprestada, chamou-o:
— Aluísio!
E fazendo-o parar, intimativo:
— É preciso que alivies o luto!...