Paulo Barreto — Discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras.

Uma tarde, encontrou-se Guimarães Passos, na cidade, com um amigo.

— Se tivéssemos dois tostões, jantaríamos esplendidamente, — informou.

O outro arranjou o níquel, e tomaram, os dois, um bonde de segunda classe, para São Cristóvão. Em frente à Quinta da Boa-Vista, saltaram.

— Aonde vamos? — indagou o companheiro do Guima.

— Aonde? Vamos comer a carne com que Sua Majestade sustenta as feras!

Entraram na quinta. Em frente à jaula das panteras, estacaram. O beluário, insolente e brutal, intimou-os:

— Os meninos vão embora. Ou vão, ou eu solto os bichos!

Um sinal de incredulidade, e ia o homem suspender os varões, quando os dois dispararam, no rumo do palácio:

— As feras! — gritaram. — As feras!

O bibliotecário do Imperador aparece à janela, fazendo-os entrar. Nesse dia, Guimarães Passos arranjou o seu primeiro emprego.