Alberto Faria — Conferência ao Museu Histórico Nacional, a 13 de maio de 1924
Exercia Luiz Gama, o famoso apóstolo negro, a advocacia e o seu apostolado contra a escravatura em São Paulo, quando lhe entrou pelo escritório, aflito, um negro, o qual, apresentando o seu pecúlio, lhe pedia que lhe promovesse a libertação. Minutos depois entra o senhor do escravo que, ao ver o negro, foi exclamando:
— Mas por que isso! Que mal te fiz eu? Pois eu não te trato como filho? Não tens cama, comida e dinheiro? Queres, então, deixar o cativeiro de um senhor bom, como eu, para seres infeliz em outra parte? Que te falta lá em casa? Anda! fala!
O negro ofegante e cabisbaixo, calava-se.
— Falta-lhe o principal, — interveio, irônico, Luiz Gama.
E dando uma palmada amiga no ombro do homem da sua cor:
— Falta-lhe a "liberdade de ser infeliz" onde e como queira!