Serzedelo Correia — "Páginas do Passado", pág. 24
Transmitida a Deodoro, por Floriano. na manhã de 15 de novembro, a notícia de que o Visconde de Ouro-Preto lhe queria falar, o velho soldado subiu e, ao penetrar no gabinete em que se achava reunido o ministério no quartel-general, foi inevitável o choque.
— Senhor general, — declarou Ouro-Preto, — diante da força e do seu ato de violência, impossibilitado eu de combatê-lo, entrego à sua guarda as instituições e o governo!
— Sim, respondeu Deodoro; — diante da força e da violência provocadas pelos governos que nunca souberam tratar o soldado. Se VV. Excias. soubessem o que é ser soldado, se VV. Excias. sofressem com cinco anos de campanha, o fogo, as intempéries e a fome, e como eu, oito dias seguidos, só comessem milho cozido, haviam de compreender as amarguras da alma do soldado, e tratá-lo de outro modo!
— Por maiores que sejam as amarguras e agonias do soldado, — retorquiu o Visconde, — não podem ser iguais às minhas, ouvindo nesta hora V. Excia.
Deodoro perdeu a calma.
— Pois V. Excia. está preso! bradou.
Floriano intervém, porém:
— Não, Manuel; isto não é do trato!
E Deodoro de novo:
— Podem o ministério e V. Excia. se retirarem para as suas casas.