Tu que passas, descobre-te! Alli dorme
       O forte que morreu.
Dá ao martyr do Louvre algumas flores;
       Dá pão ao seu lebreu.
Da batalha era o dia. O canhão troa:
E o livre corre á morte, e juncto delle
       O seu cão vae:
A mesma bala ambos feriu: o martyr
Não deploreis: o amigo seu que vive
       Só pranteae!
Tristonho, sobre o forte elle se inclina,
Affagando-o e gemendo; e a ver se acorda
       Põe-se a latir;

E do seu companheiro no combate
Sobre o cadaver sanguinoso o pranto
       Deixa cahir.
Essa gleba guardando onde repousam
As cinzas dos heroes, nada o consola
       No seu gemer;
E ao que o ameiga triste repellindo,
«Oh, que não és meu dono!―o cão parece
       Tentar dizer.
Quando sobre as grinaldas de perpetuas
O matutino alvor da aurora o orvalho
       Faz scintillar,
Os olhos abre vívidos, e pula
Para affagar seu dono, que elle pensa
       Ha-de voltar!
Quando da noite a viração as c'roas
Fez ranger sobre a cruz do monumento,
       Desanimou:
Elle quizera que seu dono o ouvisse;
E ladra e uiva; mas o adeus de á noite
       Lá lhe faltou!
O inverno chega, e a neve, com violencia,
Cái, e branqueia, e esconde esse gelado
       Leito de morte:
Ei-lo que sólta um lugubre gemido,

E busca, alli deitando-se, ampara-lo
       Do frio norte.
Antes que os membros lhe entorpeça o somno,
Mil tentativas para erguer a campa
       Inuteis faz:
Depois comsigo diz, como hontem disse,
―Quando acordar, por certo, ha-de chamar-me.»
       E dorme em paz.
Mas, na alta noite, em sonhos vê trincheiras,
E seu dono entre as balas encontradas
       Cahir ferido:
E ouve-o que o chama com sibillo usado;
E ergue-se e corre após uma van sombra,
       Dando um bramido.
É alli que elle espera horas e horas,
E saudoso murmura: alli pranteia,
       E morrerá.
O seu nome qual é? Todos o ignoram.
O que o sabía, o dono seu querido,
       Nunca o dirá!..
Tu que passas, descobre-te! Além dorme
       O forte que morreu.
Dá ao martyr do Louvre algumas flores,
       E esmola ao seu lebreu.