À mesa do "restaurant" de luxo em que se haviam encontrado, os dois boêmios trocavam impressões e confidências quando o Fernando Mota, vibrando um murro na mesa, protestou:

— Bolas! Pelo que vejo você tem tido nos braços maior número de mulheres do que eu!

— E por que não? — estranhou o outro.

— É que eu duvido!

— Duvidar, duvido eu!

— Então vamos fazer uma coisa, — propôs o mais novo dos dois, o Souza Júnior; vamos por esta avenida afora, e, cada vez que um veja uma criatura com que já tenha tido amores, mas amores reais, de abraços, de beijos, de carícias, irá contado, alto, combinado?

— Está combinado, concordou o primeiro.

Momentos depois, lado a lado, braço no braço, desciam os dois estroinas a grande artéria elegante, quando o Fernando Mota, ao passar por uma francezinha de bico de lacre, contou, iniciando a série:

— Uma!

— Uma! — fez, também o Souza.

Mais um momento e, à passagem de uma dama ricamente vestida, o Mota bisou:

— Duas!

— Duas! — fez, por seu turno, o companheiro, demonstrando terem andado, até aqui, pelos mesmos caminhos.

À esquina, quase, da rua Sete, vinham em sentido contrário, completamente distraídas, uma senhora ainda nova, deliciosamente pintada, e uma rapariga fresca, risonha, de uns vinte anos no máximo. Eram a mulher e a filha do Mota, que o Souza não conhecia como tais, e que iam para o cinema. À aproximação de ambas, o esposo contou, com justiça:

— Três!

E o Souza Júnior, enquanto o Mota se tornava branco, lívido:

— Três... quatro...