Vem, meu ginete: oh vem, meu nobre amigo!
Chama-te em altos sons tuba do norte.
Prestes no saque, intrepido nas brigas,
Dá, guiado por mim, asas á morte.

Os teus jaezes não arreia o ouro;
Mas de meus feitos o terás em paga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.

Tuas rédeas me entrega a paz que foge.
Ei-los por terra os europeus baluartes!
Meus aureos sonhos realisa agora;
Terás repouso na mansão das artes.

Volve a terceira vez ao Sena inquieto,
Que te lavou sangrento, e a sede apaga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.

Reis, sacerdotes, grandes nos clamaram,
Entre o choro de mi­seros humanos:
―Cossacos, vinde ser de nós senhores!
Servos seremos, por ficar tyrannos.»

E a cruz e o sceptro quebrarão meus fortes;
Que eu hei tomado minha lança e adaga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.

De um enorme gigante vi o espectro
Nosso campo correr co' a vista ardente;
E, gritando:―meu reino outra vez surge!»―
Mostrar com a acha d'armas o occidente.

A sombra era immortal do rei dos Hunos;
D'Áttila a voz, qual maldicção aziaga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.

De que serve seu brilho á velha Europa?
Que lhe presta o saber para salvar-se?
Os turbilhões de pó, que hão-de sumi-la,
Debaixo de teus pés vão levantar-se.

Templos, palacios, leis, memorias, usos,
Na correria extrema, e pisa e estraga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.