ATO II
editarEm casa de Salazar.
CENA I
editarDOUTOR ENGÊNIO, CAROLINA ao piano
CAROLINA - Não gosta desta habanera?
DOUTOR - Prefiro a mais vulgar música a um trecho sublime de Beethoven ou de Mozart...
CAROLINA - Como assim?
DOUTOR - Quando esta música vulgar é executada pelos seus dedos.
CAROLINA (Enleada.) - Oh! Doutor...
DOUTOR - Peço-lhe que não me trate pelo meu título; as afeições recíprocas excluem essas formalidades banais. A sua cerimônia faz-me supor não ser correspondido.
CAROLINA - Oh! porventura vê alguma coisa em mim que possa autorizar esse juízo?
DOUTOR - Só tenho lido nos seus olhos, amor, candura e inocência. Oh! amo-a muito, adoro-a, Carolina! Tenho uma vaga reminiscência de haver visto o seu semblante em um mundo ideal... no mundo dos sonhos talvez! (À parte.) Flor entre cardos! Pérola no lameirão! A eterna antítese! Oh! mas hei de tirá-la pura do meio impuro em que vive. Porque amo-a!
CENA II
editarOS MESMOS, JOSEFA
JOSEFA (Entrando a praquejar.) - Má raios te partam, te enconjuro, credo! Que azucrinação de todos os diabos! Esta molecada não me deixa sossegar! (Vendo o doutor e Carolina.) E estes dois aqui sozinhos! Que pouca vergonha! Vou participar ao mano que não posso mais viver nesta casa! De todos os lados só se vê má-criação, patifaria e pouca vergonha!
CAROLINA (Deixando o piano.) - Está zangada, tia Josefa?
JOSEFA - Estou, sim! Pois se aqui ninguém me respeita, ninguém faz caso de mim. Sou um dois-de-paus!
DOUTOR - Engana-se.
JOSEFA - Deixe-me falar... que eu só falo quando tenho rezão. Mandei um desses moleques à venda comprar quatro vinténs de pimenta-do-reino e o diabo levou duas horas na rua. Que lembrança teve o mano em mandar para cá os negros que não couberam na Casa de Comissão! É uma negralhada, que nem santo pode aturar!
CAROLINA - Porém...
JOSEFA - Deixe-me falar, com a breca! Não fazem caso de mim os tais senhores negros! Se dou uma ordem, ela entra por um ouvido e sai por outro. Ainda ontem disse à pernambucana que queria o meu vestido de fustão engomado hoje, e até agora a excomungada nem ao menos o pôs na goma.
DOUTOR - Mas...
JOSEFA - Deixe-me falar, homem de Deus! Eu levantava as mãos para o céu e acendia uma vela a Nossa Senhora das Candeias, no dia em que visse enforcados todos os negros desta terra! (Olhando ironicamente para o doutor Eugênio.) Eu bem sei que esta opinião desagrada a certos sujeitinhos que são abolicionistas, mas andam à coca de meninas que tem escravos.
DOUTOR - Perdão, parece-me...
JOSEFA - Deixe-me falar... (Carolina toma o doutor pela mão e leva-o para o jardim. Josefa não dá pela saída dos dois.) Se a carapuça serviu a alguém, esse alguém que a deite na cabeça, e vá para todos os diabos, que eu não tenho a quem dar satisfações, e não as dava nem a meu pai, que ressuscitasse! (Vendo-se só.) Foram-se? não importa! Hei de falar até não poder mais! Hei de falar mesmo sozinha, porque com certeza alguém estará escutando à porta. Doutor das dúzias! ainda aqui com partes de abolicionista, e quer casar com a filha de um homem que ele sabe que tem toda a sua fortuna em escravos. Ah! inveja! inveja!
CENA III
editarJOSEFA, SERAFIM
SERAFIM - Senhora dona Josefa, o patrão manda buscar as crioulas Jacinta e Quitéria.
JOSEFA - Ah! É você? Sente-se aqui e ouça-me (Obriga-o a sentar-se.) Veja se eu tenho ou não rezão quando falo. Vivo aqui no inferno, seu Serafim, sou tratada como uma negra! Ninguém me respeita, ninguém faz caso de mim. Estou morta por me ir embora. Aqui eu fico maluca, se já o não estou!
SERAFIM (Querendo levantar-se.) - O patrão...
JOSEFA (Obrigando-o a sentar-se.) - Deixe-me falar! Também você?
SERAFIM - Tem toda a razão, mas é que...
JOSEFA - Ainda ontem...
SERAFIM (Mexendo-se.) - O patrão tem pressa!
JOSEFA (Gritando.) - Deixe-me falar! Ainda ontem tinha eu dado ordem para mudar o coradouro.
SERAFIM - Nada! Vou eu mesmo buscar as crioulas... (Sai rapidamente.)
JOSEFA (Perseguindo-o.) - Ouça o resto, homem do diabo! Ainda ontem... Olhe! Seu Serafim! (Perde-se a voz nos bastidores.)
CENA IV
editarUM CREDOR, introduzido por LOURENÇO, depois GABRIELA
LOURENÇO - Faça favor de entrar... Eu vou chamar minha senhora... (Saída falsa.) Não é preciso: ela aí vem. (Entra Gabriela.) Minha senhora, este senhor deseja falar com vossemecê. (Gabriela cumprimenta o credor com a cabeça. Lourenço afasta-se e fica escutando ao fundo.)
O CREDOR - Minha senhora, eu vim procurar seu filho, o senhor Gustavo; o criado disse-me que ele não está em casa; fará vossa excelência o obséquio de me informar do lugar e da ocasião em que poderei encontrá-lo?
GABRIELA - Sou a última a saber da vida de meu filho, senhor. Raras vezes o vejo. Passam-se dias e dias que não vem a casa, e nunca diz para onde vai.
O CREDOR - Se vossa excelência me concedesse alguns momentos de atenção, desejava fazer-lhe revelações importantes a respeito do senhor seu filho; revelações que com certeza hão de magoá-la muito, mas que julgo necessárias.
GABRIELA - Não me surpreende. Já estou tristemente habituada aos desmandos de Gustavo; tudo tenho em vão tentado para trazê-lo ao bom caminho. - Queira sentar-se. (Sentam-se ambos.)
O CREDOR - Mas cuido que Vossa Excelência ignora a que ponto chegaram as coisas.
GABRIELA - Infelizmente sei. Apaixonou-se por uma mulher perdida, e, não podendo suprir as despesas extraordinárias que acarretam essas loucuras, recorre ao jogo.
O CREDOR - Recorre a coisa pior, minha senhora.
GABRIELA - Como?
O CREDOR (Tirando um papel do bolso.) - Tenha a bondade de ver.
GABRIELA - É uma letra de quinhentos mil réis, assinada por meu marido.
O CREDOR - Examine bem a assinatura.
GABRIELA (Lendo.) - Pedro Salazar.
O CREDOR - Reconhece a assinatura como do próprio punho do senhor Salazar?
GABRIELA (Depois de uma pausa.) - Meu Deus! (À parte.) Falsa!
LOURENÇO (Corre, toma freneticamente a letra das mãos do credor e rasga-a.) - Oh!
O CREDOR - Estou duas vezes roubado! Vou ter com a Polícia!
GABRIELA (Tomando-o pelo braço.) - Por quem é, não o faça! É uma mãe que lho pede! Queira esperar aqui um momento. (Sai.)
LOURENÇO (Ajoelhando-se em frente ao Credor.) - Por tudo quanto há de mais sagrado, pelo amor que tem a sua mãe, não lhe faça mal, meu senhor! Juro por Maria Santíssima que lhe pagarei esse dinheiro dentro de pouco tempo, com o juro que quiser. (Ergue-se.)
GABRIELA (Voltando.) - Aqui estão algumas de minhas jóias. Leve-as, venda-as e pague-se, senhor!
O CREDOR (Depois de uma pausa.) - A prática dos negócios e o atrito dos interesses egoístas blindam-nos o coração e nos tornam insensíveis aos dissabores alheios; porém não tanto como o propalam os senhores sentimentalistas... sem vintém. Quando é necessário, temos coração. Guarde as suas jóias, minha senhora! Nada transpirará deste fato, e, quanto ao pagamento, fa-lo-á quando e como lhe for possível. Às ordens de vossa excelência.
GABRIELA (Apertando-lhe a mão.) - Obrigada!
LOURENÇO (Beijando-lhe as mãos.) - Sou um pobre escravo; mas as ações generosas fazem-me chorar... (Sai o Credor acompanhado por Lourenço.)
GABRIELA (Só.) - Meu Deus! meu Deus! quando acabará este martírio? (Cai numa cadeira a soluçar. Disfarça as lágrimas ao ver entrar a filha pelo braço do doutor.)
CENA V
editarGABRIELA, DOUTOR, CAROLINA, que entram sem ver GABRIELA
CAROLINA - Tenha coragem, Eugênio! Declare-se-lhe francamente. Afianço-lhe que será bem tratado e receberá o preciso consentimento.
DOUTOR - Não o creio, Carolina. Basta ver-me para ficar de mau humor. Vota-me uma antipatia invencível, leio-a nos seus olhos, no seu modo de falar, em tudo! E se, sendo tão mal visto pelo dono da casa, ainda me atrevo a pôr aqui os pés, é porque... é porque...
GABRIELA (Interpondo-se.) - É porque ama-a, e deseja casar-se com ela. Quanto a mim, honro-me muito em tê-lo por genro. Mas meu marido é contrário a esta idéia, e meu marido é teimoso.
CAROLINA - Minha mãe!
DOUTOR - Ignoro a causa desta aversão que ele me volta.
GABRIELA - Pois ignora?
DOUTOR - Decerto. Sou perfeitamente inocente.
GABRIELA - Não consta que o doutor tem idéias emancipadoras?
DOUTOR - Sim. Se bem que não apresente como paladino, faço modestamente tudo quanto posso pela causa da emancipação dos escravos. (Pausa.) Estou perfeitamente convicto de que a escravidão é a maior das iniquidades sociais, absolutamente incompatível com os princípios em que se esteiam as sociedades modernas. É ela, é só ela a causa real do nosso atraso material, moral e intelectual, visto como, sendo a base única da nossa constituição econômica, exerce a sua funesta influência sobre todos os outros ramos da atividade social que se derivam logicamente da cultura do solo. Mesmo no Rio de Janeiro, esta grande capital cosmopolita, feita de elementos heterogêneos, já hoje possuidora de importantes melhoramentos, o elemento servil é a pedra angular da riqueza. O estrangeiro que o visita, maravilhado pelos esplendores da nossa incomparável natureza, mal suspeita das amargas decepções que o esperam. Nos ricos palácios como nas vivendas burguesas, nos estabelecimentos de instrução como nos de caridades, nas ruas e praças públicas, nos jardins e parques, nos pitorescos e decantados arrabaldes, no cimo dos montes, onde tudo respira vida e liberdade, no íntimo do lar doméstico, por toda a parte, em suma, depara-se-lhe o sinistro aspecto do escravo, exalando um gemido de dor, que é ao mesmo tempo uma imprecação e um protesto. E junto do negro o azorrague, o tronco e a força, trípode lúgubre em que se baseia a prosperidade do meu país! Oh! não! Cada dia que continua este estado de coisas, é uma cusparada que se lança à face da civilização e da humanidade! Sei que me acoimarão de idealista, alegando que não se governam nações com sentimentalismos e retóricas. Pois bem, há um fato incontroverso e palpável, que vem corroborar as minhas utopias. E sabido que os imigrantes estrangeiros não procuram o Brasil ou não se conservam nele, por não quererem emparceirar-se com os escravos. A escravidão é uma barreira insuperável à torrente imigratória. Portanto penso que só há uma solução para o problema da transformação do trabalho: a espada de Alexandre!
CAROLINA - Muito bem, Eugênio: daria um jornalista esplêndido!
GABRIELA - As suas idéias, doutor, chegaram aos ouvidos do senhor Salazar, e foi quanto bastou para considerá-lo seu inimigo natural. (Ouve-se a voz de Josefa, que descompõe alguém, gritando.)
DOUTOR - Nesse caso, deverei perder as esperanças, porque, acima dos impulsos do meu coração, acham-se os princípios sagrados da liberdade e do direito conculcado.
GABRIELA - Mas não perca a esperança. Com paciência muito se conseguirá. Sobretudo, não precipite os acontecimentos.
CAROLINA (Que ouve a voz de Josefa, a qual não tem cessado de ralhar.) Titia Josefa destemperou! Vou bulir com ela! (Alto.) Ó titia, que é lá isso, pegou fogo na casa?
A VOZ DE JOSEFA (Mais próxima, enquanto o doutor conversa com Gabriela.) - Também você, sua delambida? Quer tomar chá de garfo comigo? Vem para cá, que te ponho as orelhas em pimentão!
CAROLINA (Sempre à porta.) - Não seja tão mazinha, titia do coração. (Foge para junto da mãe.)
JOSEFA (Nos bastidores.) - Tomara que já chegue o dia da minha morte, só para ver se eu descanso um dia na minha vida. (Atravessa a cena com uma vassoura na mão e uma caçarola na outra.) Amanhã me mudo desta casa. Não posso mais com esta vida! Que inferneira! te arrenego! (Sai. Carolina arremeda-a.)
CAROLINA - Venha cá, titia, olhe, escute!
GABRIELA (Ao doutor.) - Depois de amanhã vamos para a fazenda, onde passaremos um mês. O doutor não nos quer fazer companhia?
DOUTOR - Eu? Depois do que acabo de saber?
CAROLINA (Que se tem aproximado.) - Sem dúvida que há de ir, e por isso mesmo. Papai terá lá muito pouca gente com quem se entreter, e será obrigado a fazer as pazes com o senhor. Eu serei a intermediária. Ele não é tão mau como dizem.
GABRIELA - Além disso, o ar do campo tem a virtude de abrandar um tanto...
DOUTOR - Bem; nesse caso, aceito... (Baixo a Carolina, passando.) A tudo me sujeito para estar ao pé de ti. (Apertando-lhe a mão.) Adeus!
CAROLINA - Até quando?
DOUTOR - Até sempre. (Aperta a mão de Gabriela.) Dona Gabriela...
GABRIELA - Até sempre, doutor...
CAROLINA - Apareça para combinarmos na viagem. (O doutor cumprimenta e sai. À mãe.) Felizmente Eugênio é o médico da casa... Se não fosse isso, papai seria capaz de dar a entender que o não queria ver aqui...
GABRIELA - E se ainda o não deu, é por ignorar que ele te requesta. Mas vamos para dentro. (Toma as jóias.)
CAROLINA - As suas jóias? Por que estão aqui?
GABRIELA - Por nada... Vamos, Carolina. (Saem.)
CENA VI
editarSERAFIM, entrando a tocar duas escravas diante de si, e acompanhado por JOSEFA
JOSEFA - Mas ouça, homem de Deus!
SERAFIM - Desculpe, minha senhora, desculpe, não posso ouvir. A senhora já me tem demorado tanto! É até possível que o patrão me ponha no andar da rua! Eu sou tão caipora... sou um tipo tão arrebentado! Vamos raparigas! Vamos! Toca!
JOSEFA (Tomando-o pelo braço.) - Ouça, e veja se não tenho razão quando falo... escute...
SERAFIM - Virgem Nossa Senhora! Não posso agora! Estou com muita pressa! Logo mais!
JOSEFA - Não, há de ser já... escute! (Serafim sai correndo, tocando as negras adiante de si. À porta.) Malcriado! Trampolineiro! (Indo à janela.) Patife! Desavergonhado! Vou descompô-lo pela janela do beco! (Saindo.) Hás de pagar-me! Hei de ensinar-te a prestar atenção às pessoas mais velhas! (Sai gritando sempre. A cena fica vazia por alguns momentos. Por algum tempo, ouve-se ao longe a voz de Josefa. Entra Gustavo e atira, de mau humor, o chapéu ao chão.)
CENA VII
editarGUSTAVO, depois LOURENÇO
GUSTAVO - Desgraça! Desgraça! Só me falta, para solução final, cravar uma bala nos miolos. Já o tentei uma vez, mas falhou-me a energia e tremeu-me o braço. (Lourenço ao fundo espreita-o.) Uma coisa por demais! Não há meio de desforrar mil réis que sejam! (Pausa.) Mas é indispensável, urgente, imprescindível, que eu, de qualquer modo, resgate aquela letra, para ao menos ressalvar o resto de vergonha e honradez compatível com a deplorável vida que levo! (Atira-se no sofá e fecha os olhos. Pausa.) Treze... Treze... Quatorze! Quinze! Chorrilho de grandes! Em um quarto de hora posso ganhar uma fortuna, deixando a dobrar! (Abre os olhos, olha em roda de si e aponta para o gabinete.) É ali. (Tirando uma chave do bolso.) A chave cabe perfeitamente... Tiro o dinheiro, e em menos de meia hora o reponho! Ninguém o saberá. (Dirige-se para o gabinete e estaca na porta.) Gustavo! Gustavo! que vais fazer? Miserável! Ah! Porém... Ora! Não há dúvida! Bastará um chorrilho de oito grandes para endireitar tudo! (Sai.)
CENA VIII
editarLOURENÇO, depois GUSTAVO
LOURENÇO (Que tem acompanhado ao fundo todo o monólogo de Gustavo, dirige-se à porta do gabinete e espreita.) - Que faz ele? Jesus! Misericórdia! Abre a secretária com uma chave falsa! Ah! não! custe o que custar, hei de impedir aquela infâmia, que o desonra... e que me desonra também!
GUSTAVO (Voltando, sem ver Lourenço, contando o dinheiro.) - Trezentos! Trezentos e cinquenta! Um chorrilho de oito grandes é coisa muito comum nos dados. Pondo cinquenta mil réis a dobrar, levanto quatro contos e oitocentos num abrir e fechar d’olhos! (Vai a sair.)
LOURENÇO (Interpondo-se.) - Dê-me isto?!
GUSTAVO (Surpreendido.) - Isto quê?!
LOURENÇO - Dê cá este dinheiro!
GUSTAVO - Enlouqueceste! Quem és tu para me falares assim?
LOURENÇO - Eu, Lourenço. Sou eu.
GUSTAVO - Arreda, bêbado! Deixa-me passar!
LOURENÇO - Não há de sair daqui com o que tem na mão!
GUSTAVO - Não estou agora para aturar-te a cachaça! Se estivesses bom da cabeça, pagavas-me caro o desaforo! (Vai a sair.)
LOURENÇO (Colocando-se na porta.) - Não sairá sem me entregar este dinheiro!
GUSTAVO (Encolerizado.) - Deixa-me, diabo!
LOURENÇO - Não! (Segura Gustavo, que tenta sair.)
GUSTAVO - Cão! Olha que és um negro cativo, e eu sou teu senhor!
LOURENÇO - Pouco importa! Não posso consentir no que faz! Entregue-me o dinheiro! (Pequena luta, finda a qual, Lourenço tem-se apoderado do dinheiro.)
GUSTAVO - Miserável! Ladrão! Patife! Corto-te a chicote! (Dá-lhe uma bofetada no momento em que aparece Gabriela.)
CENA IX
editarLOURENÇO, GUSTAVO, GABRIELA
GABRIELA - Lourenço! Gustavo! Meu Deus!...
LOURENÇO (Em tom singular.) - Esta bofetada será um direito perante os homens, mas perante Deus é um sacrilégio. Eu...
GABRIELA (Correndo para Lourenço.) - Lourenço, não o digas!
LOURENÇO (Desvencilhando-se.) - Eu sou teu pai! (Tomando Gabriela pelo braço.) Negue! Negue, se é capaz! (Gabriela dá um grito e cai desfalecida. Longa pausa. Gustavo fulminado recua paulatinamente, fitando Lourenço com o olhar desvairado. Entra Salazar, que estaca no fundo ao ver a cena.)
CENA X
editarOS MESMOS, SALAZAR
SALAZAR (Descendo.) - Que é isto?! Minha mulher desmaiada... Meu filho desvairado... Este negro... (Vendo dinheiro.) Dinheiro! (Tomando-lhe das mãos.) Dinheiro?! Onde o roubaste?
LOURENÇO (Caindo de joelhos a soluçar.) - Da sua secretária, meu senhor.
SALAZAR (Colérico.) - Ladrão! Além do mais, é ladrão!
GUSTAVO (Como voltando a si, febrilmente.) - Negro?! Eu! Filho de um escravo! Oh!... Impossível! Meu Deus!
FIM DO SEGUNDO ATO