De uma carta de Corumbá, datada em 12 de março, com que fomos obsequiados, extraímos a seguinte passagem:
“Isto por aqui não vai nada bom... Exercícios, missas, paradas e, especialmente, intermináveis faxinas, fazem os divinos divertimentos desta malfadada terra, onde atualmente suportamos 40 e 41 graus de calor. Os jornais da corte bradam a uma temperatura de 33 a 37º; e aqui, quando a natureza deste lugar no-la permite, dizem os habitantes da terra, e nós também: Que belo tempo!
“Pois bem; com todo este calor, são os batalhões obrigados a fazer exercícios diários das 5 às 7 horas da tarde, e até nos domingos, depois da missa; correndo estes últimos por conta dos comandantes.
“Faxinas de sol a sol; o que tem levado grande número de soldados a desertarem diariamente para a Bolívia.
“Que se diz de nós? Ficamos, ou voltamos? Por enquanto, não se sabe a que viemos. Só hoje foi que chegou o 21º, faltando ainda o 8º, que deverá chegar amanhã.”
De outra carta copiamos este tópico:
“Ainda não recebemos fardamento algum. Os soldados estão quase nus e o serviço da faxina tem feito adoecer quase todas as praças.”
O país não está mais adiantado que as vítimas desse maligno capricho, quanto às causas que possam justificar o açoite, a que se acha submetida aquela secção do exército brasileiro.
Os conselheiros imperiais e, em geral, o funcionalismo, entre nós, acham-se habituados a não acreditar em responsabilidades de ordem moral. O ministro da Guerra, por exemplo, estamos convencidos de que passará pela maior das surpresas, se alguém se propuser demonstrar-lhe seriamente que os desastres de uma expedição inútil, destinada só a servir a conchavos e planos cortesãos, pesam diretamente sobre a cabeça do servidor da coroa, que se rebaixa a instrumento de tais covardias.
A primeira medida já não tinha atenuante. Esse desterro improfícuo, acintoso, puramente malfazejo, já não podia encontrar qualificação acomodável à respeitabilidade do poder público. Que diremos agora, porém, desta recrudescência de trabalhos aflitivos, impostos ao soldado brasileiro, sob uma atmosfera cuja influência, por si só, anemiza e arruína os mais fortes?
Porque, evidentemente, para se haver com tão extraordinária severidade, o general, que comanda aquelas forças, deve ter recebido ordens especiais e terminantes do Governo. Fazemos-lhe justiça às qualidades morais, acreditando que, se pudesse consultar livremente as aspirações dos seus sentimentos, se lhe não pesasse n’alma essa manopla férrea da obediência militar, o ilustre marechal não agravaria gratuitamente os sofrimentos de seus companheiros de armas.
Há, portanto, aí, uma força superior, uma autoridade inelutável, que vence todas as resistências, e as leva de rojo.
Força tal não pode ser a do ministro, individualidade flácida, político invertebrado, espécie de medusa marinha, de fibras morais inconsistentes e diáfanas, que flutua à tona de todas as correntes, e vai dar nas praias, aonde o leva a ressaca.
Essa força está mais alto. E digamos tudo; essa força é o bastão do verdadeiro marechal das nossas forças, do generalíssimo real dos nossos exércitos, o príncipe consorte.
Sua Alteza está sendo, contra as leis e a constituição do império, o ministro permanente e senhor absoluto dos negócios da guerra.