Na primeira representação da Hécira, o público romano, distraído por um espetáculo de funâmbulos, não concorreu ao teatro.
Pondo novamente em cena a sua comédia, Terêncio referiu a circunstância em um prólogo e com esta severidade:
Ita populus studio stupidus in funambulo.
Animum occuparat.
O autor do Jesuíta não tomará estas palavras por epígrafe; recorda-as porém como uma lição para aqueles que taxaram de inaudito o seu procedimento.
A esses talvez aplicasse Terêncio o epíteto que dirigiu ao povo-rei. O escritor brasileiro não se julga com tal direito.
Da mesma sorte que a comédia do ilustre poeta romano, o Jesuíta, não foi ouvido, nem julgado: neque spectari, neque conosci. O público fluminense teve para distraí-lo, não um, porém diversos funâmbulos.
Dando à estampa o drama, julgou o autor indispensável acompanhá-lo dos artigos que suscitou-lhe o eclipse do público. Antes desses artigos porém transcreveu o juízo crítico de um jovem escritor de grande talento, o Sr. Luís Leitão, que desenvolveu cabalmente o pensamento do Jesuíta.
Assim fica o leitor habilitado para sentenciar este pleito dramático; o julgar imparcialmente entre o autor, o público e os críticos.
O desígnio dos artigos escritos pelo autor, foi mostrar o atraso da nossa plateia e o abandono em que as classes mais ilustradas vão deixando o teatro, dominado exclusivamente pela chusma.
Não se propôs o autor a exaltar sua obra e apresentá-la como digna de aplausos e ovações. Quando ele consentiu que o Jesuíta fosse levado a cena, bem sabia que o entregava à indiferença pública.
Se o drama já de si era impróprio para nossa plateia habitual, a maneira por que foi representado, a precipitação em exibi-lo sem aprovação do autor que não viu um só ensaio; a má distribuição dos papéis; tudo isto justificaria um revés; mas não explica a deserção.
Esta só tem uma razão.
É que o público fluminense ainda não sabe ser público, e deixa que um grupo de ardílios usurpe-lhe o nome e os foros.
Se algum dia o historiador de nossa ainda nascente literatura, assinalando a decadência do teatro brasileiro, lembrar-se de atribuí-la aos autores dramáticos, este livro protestará contra a acusação.
A representação do Jesuíta é a nossa plena justificação. Ela veio provar que o afastamento dos autores dramáticos, não é um egoísmo, mas um banimento.
O charlatanismo expulsou a arte do templo.