O capitão Vicente Bandeira estava já no segundo sono, quando, pelas três horas da madrugada, percebeu barulho na sala de jantar. Ouvido alerta, sentiu um estalar de gaveta, e outros ruídos que lhe denunciavam a presença de estranhos, no andar térreo da casa.
— Lulu? — chamou, sacudindo brandamente a mulher. — Lulu?... Lulu?...
— Hein?... Hein?... Que é?... — fez a boa senhora, despertando.
— Parece que temos gatuno em casa, filha!
Corajoso e decidido, o valente militar engatilhou a pistola, e, de pé ante pé, desceu ao andar térreo. E não se tinham passado quatro minutos quando Dona Lulu conheceu, em cima, pela queda precipitada dos móveis, que o marido havia se atracado com o ladrão.
Confirmada a sua suspeita, desceu. Cabelo alvoroçado, em ceroula, descalço, Vicente Bandeira tinha diante de si, encostado à parede, com as roupas em tiras e o rosto em sangue, um rapazola de uns vinte anos, que tremia, chorando:
— Não me mate, senhor capitão. Eu sou um gatuno honesto! Eu roubo para viver, é certo; mas roubo sem rebaixar-me!
Vicente Bandeira olhava o rapazola, sem compreender. E o desgraçado continuava:
— Eu sou um rapaz de bons costumes, educado com grande carinho. Nunca freqüentei lugares suspeitos!
E as mãos juntas, o rosto em lágrimas, um choro de cortar a alma:
— E a prova, senhor capitão, é que, para roubar, eu só visito casas de família!...