Em toda a rua Nossa Senhora de Copacabana, da praça Serzedelo para cima, não havia noivos que mais se quisessem. À tarde, encerrado o expediente da Secretaria, o Gustavo não se detinha na Avenida nem, mesmo, para engulir um café: tomava um bonde e corria à casa da noiva, onde a Zinha o esperava com a sua "toilette" fresca, para um ligeiro passeio pela praia. Ao anoitecer, tornavam à casa, jantavam, e, braço dado, lá se iam para o cinema, onde se encolhiam a um canto, indiferentes às bufonarias de Carlitos e, ainda mais, à bravura de Tom Mix.
Carinhoso com a noiva, o rapaz não ia ao seu encontro sem levar-lhe uma pequenina lembrança. Hoje, era um pacotinho de balas; amanhã, um livro, mas, sempre, alguma coisa. E foi com esse pensamento, que, naquela tarde, entrara numa confeitaria no caminho, comprando um cartucho de balas de hortelã, e outro de chocolate com creme. Chegado à residência da menina, ofereceu:
— Olha o que eu te trouxe! Hortelã.
— Não; eu gosto mais do chocolate.
Zizinha insistiu, porém, pelo chocolate com creme, abriu o cartucho, e pôs-se a comê-lo, gulosamente. O chegar à praia, queixou-se:
— Sabes de uma coisa? Eu não estou me sentindo bem. Vamos para casa?
Em casa, começou a vomitar, e vômitos foram esses que, duas horas depois, estava morta, envenenada, pelo chocolate que havia comido.
Desolado, Gustavo tomou o caminho da sua residência, no Leme. Pálido, nervoso, não se continha, andando de um lado para outro, numa aflição desesperadora.
— Que é isso, meu filho? Sossega! — pedia-lhe a mãe, juntando as mãos. — Eu compreendo o teu sofrimento... Foi porque perdeste a noiva... Não é?
— Não, minha mãe, não! — gemia o rapaz.
E num grito de consciência, arrancado do fundo da alma:
— Imagine a senhora que... eu estive para comer o chocolate!...
E teve um arrepio, de horror.