Aquelas festas do comandante Brás de Oliveira acabavam sempre daquela maneira. As empadas, os sandwiches, os pastéis, o champagne, o wisky, os sorvetes, os doces, eram em tal abundância, que os convidados, às duas da madrugada em diante, eram em maior número à porta dos gabinetes reservados do que, mesmo, nos salões e em torno das mesas de jogo. A metade deles apanhava, infalivelmente, uma indigestão, e a outra metade um desarranjo interno para o resto da vida. Amigo do velho marinheiro, Vitoriano Sobreira estivera, naquela noite, no gracioso palacete da Avenida Atlântica. E tantos pastéis engolira, de mistura com fatias de "foie gras" e pinceladas de "caviar", regadas a Cliquot, que, às três da manhã, se escapulia pelo portão do lado, com a cartola no cocuruto, a capa no ombro esquerdo, o suspensório no direito, segurando com ambas as mãos o cós da calça, por cima do colete amarrotado. A gravata, essa, fora colocar-se em cima da carótida, como se fosse o enfeite natural da grande artéria.

A noite estava escura, e as ruas, àquela hora, completamente desertas. A cabeça pesada, as pernas leves, o Brás atravessou uma rua de bondes e, sem saber mesmo para onde ia, enveredou por uma travessa, que uma única lâmpada clareava. E ia, já, a meio do caminho, quando pulou de um vão de porta um vulto, legítimo tipo de "apache", o boné em cima dos olhos, um lenço ao pescoço, um revolver na mão direita.

— Alto lá! — gritou-lhe o salteador.

Vitoriano parou, automaticamente.

— Levante as mãos! — ordenou o bandido.

— Eu? — sorriu o rapaz, inconsciente. — Você não vê que eu não posso?

E com uma risadinha de ébrio e, ao mesmo tempo, de pândego:

— Eu levanto mas com uma condição.

— ?...

— Você me segura a calça!