Eu era inda criança e era já velho o gato:
Amava o sol; dormia um longo dia inteiro;
Tinha na luz, que entrava, assim como um regato
Pelas portas a dentro, áureo e bom travesseiro.

Já não corria mais ao saboroso prat
Com o miar doce e agudo e o salto prazenteiro;
Já não vinha enroscar o pêlo ao nosso fato;
Já não pulava ao armário ao alvorar de um bom cheiro.
 
Porém quando o meu pai, com sua voz austera,
Bradava: — Ó Paca... então ouvia-se um trinado
Alegre, forte, extenso, amplo, a trepar na esfera,
 
E ele engolia o espaço, ardente, o colo alçado,
E o víamos passar, em plena primavera,
Pelo fundo de um grito, enorme e transformado...