O maior desejo do Alselmo Pimenta era possuir um papagaio. Toda vez que partia um amigo para o norte, a sua encomenda era certa:
— Manda de lá um papagaio; ouviste? Eu pago as despesas!
E nunca ninguém lho havia mandado. Um dia, porém, lá ia o Pimenta pela rua Sete de Setembro, quando viu, em uma casa de aves, uma gaiola com dois "louros" que eram uma beleza, como figura e como colorido: um maior, todo verde e amarelo, com encontros vermelhos nas asas, e outro menor, mais leve, demonstrando no porte e nas penas a modéstia e a fragilidade do sexo.
— Quer vender um desses papagaios? — indagou, entrando, do dono da casa.
— Não, senhor; isto é um casal: um macho e uma fêmea. O macho é aquele maior, mais vistoso, mais bonito. Mas não são para vender, não. Agora, se o senhor quiser, eu lhe vendo aí uns ovos; dentro de quinze dias estão tirados.
Anselmo Pimenta comprou quatro ovos, a dois mil réis cada um. Em casa, pôs debaixo de uma galinha que chocava, e, doze dias depois, ficou escandalizado, ao ver sair dos quatro ovos um pinto e três pombos. Pondo o chapéu na cabeça ganhou a rua. Na casa de aves perguntou pelo papagaio.
— Está ali, — disseram-lhe, indicando-lhe a gaiola, com o casal de "louros".
Anselmo aproximou-se, procurando, com os olhos, a ave maior.
— Papagaio, — disse, em tom quase confidencial, — eu preciso falar com você. Quem avisa amigo é...
E arregalando a pálpebra esquerda com o dedo, indicando a ave fêmea:
— Abra o olho com ela, hein?!...