A mulher tomou outro norte muito diferente do marido, vendo-se com muito dinheiro e ainda não muito velha. Ali, no mesmo sítio, havia um rapaz que tinha muito menos idade do que ela mas também tinha muito menos dinheiro. A coisa estava balanceada: o que um tinha de mais, tinha o outro de menos. Propuseram-se, pois, a casar. Antes de o fazerem, porém, começaram a gastar o dinheiro. Ela pôs logo Dom e deu todas as saias e roupinhas de pano e baeta que tinha. Vestiu-se de branco. Deu-lhe uma constipação e andou dois meses em mãos de Cirurgião. E, daqui podem vossas mercês supor que tal ela ficaria, que foi doente para toda a vida. O dinheiro também adoeceu e estava quase héctico porque lhe tinham dado grandes sangrias. A doença demorou o casamento e o noivo foi recuando, de forma que ultimamente disse-lhe um reverendo não quero quando ela lhe falou em matrimónio. A mulher era mulher de porte. Tinha sentado uma vez que devia casar. Não se podia desdizer e procurou, pois, outro sujeito. Mas como ela tinha menos dinheiro, custou-lhe bastante a achar. Mas sempre há um testo para uma testa. Deu-se volta aos negalhos e ainda apareceram algumas linhas para se dar ordem ao casamento. Concluiu-se e houve grande banquete, com muito de comer, à excepção de carne de porco que não veio à mesa só porque não viesse renovar a memória de que tinha havido porqueiro em casa.
Dentro de um ano deu-se cabo do que havia. E tanto que não houve de comer, o marido não pôde tragar mais a mulher. Despediu-se dela em Francês e como ela não sabia esta língua, não soube para onde ele tinha ido. Algumas diligências fez por ele e soube, no fim de dois meses, que andava guardando porcos noutro lugar. Ela tinha tomado tanta aversão a esta qualidade de animais que nunca mais quis ouvir falar neles.
Pouco tempo durou mais. Tudo lhe faltou ao mesmo tempo: homem, dinheiro e saúde. Dentro de quinze dias se pôs que parecia uma quaresma e eu não queria também emagrecer. Antes que ela morresse, passei para a cabeça do filho e é a