Beiço pendente sobe a papada, papada pendente sobre o peitilho da camisa gomada, o comendador Salustiano tivera a felicidade de casar-se com uma senhora rica, viúva de dois maridos, e herdeira de três, a qual, para maior comodidade, lhe havia levado, já, dois filhos para o matrimônio. Derreado em uma cadeira de braços, nunca fizera nada, na vida. Limitava-se a comer o que lhe colocavam diante da boca, e, para vestir-se, era necessário que lhe metessem os botões na camisa, a gravata no colarinho, e lhe enfiassem, mesmo, as botinas nos pés.
Precisando de marido unicamente para lhe dar o nome, espécie de guarda-chuva com que afrontava os temporais, Dona Josefina pouco se afligia com aquele porco. Um dia, porém, irritou-se: ao lado da cadeira em que ele passava o dia, um lago de saliva sujava o tapete.
— Oh, Salustiano! — fez a moça. — Então, isso se faz? A escarradeira não estava alí?
— Estava; mas a dois metros de distância.
— Por que não chamou o criado, para aproximá-la?
— Ora... Só o trabalho de gritar!...
— Pois, olhe: eu vou mandar colocar aí, junto de você, uma campainha elétrica... Ouviu?
No dia seguinte, aparecia, realmente, o eletricista. Colocados os fios, os tímpanos, enfim, pronto o trabalho, explicou ele ao comendador, que o olhava, estúpido, com os seus olhos de suíno:
— Quando o senhor quiser chamar o criado, é só apertar aqui...
— Apertar? — fez Salustiano.
E as mãos caídas, o beiço mole:
— Não tem alguma coisa que toque, sem dar a gente o trabalho de apertar?