Bertoldo Catanhede da Silva era célebre nos anais da malandragem nacional quando se encontrou, naquela tarde, sob o toldo da Galeria Cruzeiro, com o Atanásio Coutinho, que conhecera meses antes na Casa de Correção. O primeiro estava tão solene, tão grave, tão correto no seu terno de casimira marrom, que o outro quase não o conhece.

— Que prosperidade, gente! Quase que eu não falo por não saber quem era!

Bertoldo explicou ao antigo companheiro de prisão as vantagens da sua nova profissão. Tinha-se regenerado, esquecendo o passado de falcatruas, de roubos, de maroteiras. Agora, era um homem de bem, que conquistava honestamente o seu pão.

— E você, ao que parece, tem se dado bem... objetou o Atanásio. — Tem boa roupa, relógio, corrente, chapéu novo, abotoadura nova... Está, enfim, um pelintra!

Examinou-o de novo, e tornou:

— E esse relógio, onde você o adquiriu?

— Este? Na Torre de Ouro, na Avenida.

— Por quanto?

O "regenerado" coçou a cabeça, atrapalhado.

— O preço, filho, não sei... — confessou. — À hora em que passei por lá, para adquiri-lo, não havia nenhum caixeiro no balcão.

E sincero, cortando a conversa:

— Eram duas e meia da madrugada... Estavam todos dormindo!...