A Amelinha está doente,
Chora, tem febre, delira;
Em casa, está toda gente
Aflita, e geme, e suspira.
Chega o médico e a examina.
Tocando a fronte abrasada,
E o pulso da pequenina,
Diz alegre: “Não é nada!
Vou lhe dar uma receita.
Amanhã, o mais tardar,
Já de saúde perfeita
Há de sorrir e brincar.”
Vem o remédio. Amelinha
Grita, faz manha, esperneia:
“Não quero!”
O pai se avizinha,
Mostrando-lhe a colher cheia:
“Toma o remédio, querida!
Dar-te-hei como recompensa,
Uma boneca vestida
De seda e rendas, imensa...”
—“Não quero!”
Chega a titia:
“Amélia é boa, não é?
Se fosse boa, teria
Toda uma arca de Noé...”
—“Não quero!”
Prometem tudo:
Livros de figuras cheios,
Um vestido de veludo,
Brinquedos, jóias, passeios...
Teima Amelinha. faz manha.
E diz o pai, já com tédio:
—“ Menina! você apanha,
Se não toma este remédio!”
E nada! a menina grita,
Sem querer obedecer.
Mas nisto, a mamãe aflita,
Põe-se a gemer e a chorar.
Logo Amelinha, calada,
Mansa, a colher segurando,
Sem já se queixar de nada,
Vai o remédio tomando.
—“Então? mau gosto sentiste?”
Diz o pai... E ela, apressada:
— “Para não ver mamãe triste,
Não sinto mau gosto em nada!”