Com os seus cinqüenta anos de homem ocupadíssimo, o Dr Viana Pacheco temia, embora injustamente, que a Natália, moreninha a quem protegia secretamente, caísse na vida aventurosa. Era casado, tinha um filho já rapazola e não podia, evidentemente, acompanhar a rapariga por toda a parte. E como a visse irritada contra a sua tirania, e preferisse perder a metade a perder tudo, tomou ele próprio, a iniciativa de uma proposta.
— Sabes, filha, — disse-lhe ele, um dia, com cuidado; — é preciso que tu andes acompanhada por alguém que vele por ti. Vamos, pois, fazer uma coisa: arranja um rapaz direito, novo, que me substitua quando eu não possa andar a teu lado. Eu o sustentarei, e a ti. O que eu quero é que tu não caias nas mãos de todo o mundo.
— Como tu és bom, meu amor! — foi a resposta da moreninha, enquanto lhe cobria de beijos os olhos, a barba grisalha e a calva resplandecente. — Eu já havia pensado nisso, e tem, até, aí, um rapaz, muito moço ainda, que se presta admiravelmente para essas coisas.
— Então fala com ele, e leva-o, à noite, ao São José. Eu vou mandar-te das cadeiras, e fico na terceira, perto de vocês.
À noite, estava o ilustre advogado no lugar estabelecido, quando, com o teatro na penumbra, entraram a Natália e o meninote. Sentaram-se na mesma fila: o velho de um lado, o jovem do outro, e a rapariga entre os dois.
De súbito, clareia tudo. E ia Viana Pacheco voltar-se, quando viu estender-se para ele a mão do rapazola que entrara com a Natália.
— A benção, papai!
Olhou, e estremeceu!
Era o filho.