Voltando do interior à capital de Pernambuco, o primeiro ponto para onde me encaminhei, depois de ter ido ao meu cabeleiro, foi o teatro. Havia cerca de oito meses que eu estava fora do Recife. A minha estada na remota povoação aonde me levara interesse particular, fora um longo e ininterrupto tédio. Cheguei ávido de distrações. Ora, a primeira que se me ofereceu foi um espetáculo anunciado para aquele dia. Esse espetáculo despertou logo em mim dobrada curiosidade: o drama, além de novo, era original de Ângelo.
No teatro, encontrei-me com Martins, que fora atraído pela mesma novidade que eu. Ângelo estava num camarote da segunda ordem. Notando eu a presença de duas senhoras que me pareceram estranhas à família do dramaturgo, Martins veio em socorro à minha lembrança:
— Não conheces mais Sinhazinha e a mãe?
— Ah! São elas?
— Ângelo está de casamento justo com Sinhazinha.
Nesse momento, o nosso amigo, que nos vira, fez sinal para que fossemos ter com ele. Subimos, e do camarote assistimos aos seus triunfos literários.
Quase não conheço Sinhazinha. Estava muito menos delgada do que antes, corada, bonita e parecia ter perdido parte dos modos tímidos, melhor direi, do acanhamento que um ano atrás era a sua feição dominante. Ângelo mostrava-se satisfeito, para não dizer feliz. Enfim, notei entre as duas famílias uma como benevolência recíproca e íntima, que me deu a medida da harmonia a coroar o laço ajustado entre os dois jovens.
Lembrei-me de Maurícia ao sair do teatro, e falei nela a Martins.
— Vai fazer um ano que a acompanhei à sepultura. Teve uma vida bem penosa e crua. Descansou.
Comoveram-me estas palavras.
Entrei em casa, revolvendo no pensamento aquela profunda sentença que Herculano pôs nas elegias do Presbítero de Cartéia:
"Haverá paz no túmulo? Deus sabe o destino de cada homem. Para o que aí repousa, sei eu que há na terra o esquecimento!"