De rosée
Arrosée.
La rose a moins de fraicheur.
Henrique IV
Silêncio grato da noite
Quebram sons duma canção,
Que vai dos lábios de um anjo
Do que escuta ao coração.
Dizia a letra mimosa
Saudades de muito amar;
E o infanção enleado,
Atento, pôs-se a escutar.
Era encantos voz tão doce,
Incentivo essa ternura,
Gerava delícias n'alma
Sonhar d'havê-la a ventura.
Queixosa cantava a esposa
Do guerreiro que partiu,
Largos anos são passados,
Missiva dele não viu...
Parou!... escutando ao perto
Responder-lhe outra canção!...
Era terna a voz que ouvia,
Lisonjeira — do infanção:
"Tenho castelo soberbo
Num monte, que beija um rio,
De terra tenho no Doiro
Jeiras cem de lavradio;
"Tenho lindas haquenéias,
Tenho pajens e matilha,
Tenho os melhores ginetes
Dos ginetes de Sevilha;
"Tenho punhal, tenho espada
D'alfageme alta feitura,
Tenho lança, tenho adaga,
Tenho completa armadura.
"Tenho fragatas que cingem
Dos mares a linfa clara,
Que vão preando piratas
Pelas rochas de Megara.
"Dou-te o castelo soberbo
E as terras do fértil Doiro,
Dou-te ginetes e pajens
E a espada de pomo d'oiro.
"Dera a completa armadura
E os meus barcos d'alto-mar,
Que nas rochas de Megara
Vão piratas cativar.
"Fala de amores teu canto,
Fala de acesa paixão...
Ah! senhora, quem tivera
Dos agrados teus condão!
"Eu sou mancebo, sou Nobre,
Sou nobre moço infanção;
Assim pudesse o meu canto
Algemar-te o coração,
Ó Dona, que eu dera tudo
Por vencer-te essa isenção!"
Atenta escutava a esposa
Do guerreiro que partiu,
Largos anos são passados,
Missiva dele não viu;
Mas da letra que escutava
Delícias n'alma sentiu.