Tobias estremecia a filha; quis resistir, mas não pôde. Passou ordem de soltar Chico Teles, mas guardou-a no bolso, à espera da declaração de Alfredo. Este foi leal e disse onde se achava a moça. Tobias entregou o papel ao rapaz.

Nisto entrou um rapaz trazendo café. Alfredo ofereceu uma xícara a Tobias, que aceitou; saborearam o moca conversando tranqüilamente.

Não pareciam já os adversários da véspera.

Finalmente, Tobias saiu para ir buscar a filha, e Alfredo para ir buscar o pai. Uma vez solto, Chico Teles voltou para casa, encerrou-se nos seus aposentos e entrou a ver por que meios estrondosos tiraria a sua desforra. Lembrou-lhe um: fazer um relatório circunstanciado das últimas ocorrências, assinado por grande número de pessoas e mandá-lo ao ministério.

Entretanto Manoel Tobias foi à fazenda de sua irmã, onde se achava Elisa. A moça, quando viu o pai, enfiou; este declarou positivamente que ela voltaria para casa; a tia protestou; Tobias gritou; Elisa, depois de ouvir tudo, tomou a palavra, e disse estar disposta a não ir para casa senão casada com Alfredo Teles.

Debalde Manoel Tobias desenvolvia a sua lógica, para mostrar as inconveniências políticas de semelhante casamento; Elisa persistia nos seus propósitos, acrescentando que, no caso de não casar com Alfredo, possuía um meio fácil e rápido de terminar a existência.

Manoel Tobias saiu desesperado.

Chegando à casa, escreveu carta sobre carta, fez circular o boato de que estava doente: mas a nada disso movia-se a filha — até que o pobre juiz de paz mandou um recado a Alfredo, dizendo que lhe fosse falar.

Quem recebeu o recado foi Chico Teles, que respondeu negativamente ao portador.

A esse tempo, porém, Elisa, que não dormia, tinha escrito ao namorado, e desde a véspera que este se achava na fazenda.

Elisa, de acordo com a tia, e o capelão da fazenda, tinha organizado um plano do casamento, que foi submetido a Alfredo, e aprovado por este. O pobre Alfredo, desenganado da política, voltava às suas primeiras ilusões: todo o amor, que sentia por Elisa, reaparecera, e já era impossível ter mão nos dois amantes. A prova de que Alfredo sentia-se feliz é que fazia, termo médio, cinco a seis anagramas por dia.

Fez-se o casamento na fazenda, na ausência dos pais.

Entretanto o Farol, redigido por Manoel Tobias, tinha interrompido a publicação, e os assinantes começaram a reclamar; a Atalaia tirava partido da situação do adversário, e perguntava por que motivo, depois da sua vitória, não dava sinal de si o juiz de paz.

Uma manhã, porém, estava Manoel Tobias em casa, triste e aflito, a ver como lhe voltaria a filha, quando aparece aos seus olhos o filho de Chico Teles.

— Que me quer o senhor?

Alfredo lança-se-lhe aos pés.

— O seu perdão!

— Por quê?

— Sou seu genro.

— Meu genro! Mas como, senhor? Sem meu consentimento?...

— É por isso que lhe peço perdão; eu não podia resistir ao amor por D. Elisa, nem ela por mim, e resolveu-se casar, esperando da sua inesgotável bondade um perdão às nossas culpas!

— Levante-se, senhor!

— Oh! obrigado!

— Mas onde está ela? Na fazenda?

— Não; está na vila; quer ir vê-la?

— Vamos.

Alfredo e Tobias adversários dias antes, saíram assim de braço, causando espanto a todos quanto passavam e os viam tão congraçados.

Entretanto à mesma hora em que Alfredo entrava em casa de Tobias, Elisa entrava em casa de Chico Teles, e caía-lhe aos pés.

— Que é isso, menina? perguntou Chico Teles.

— Quero o seu perdão.

— Por quê?

— Promete que nos perdoará...?

— Nos perdoará?... Então?

— Eu sou sua nora.

— Essa!...

— Mas perdoe-nos; o mal, se isto é mal, está feito! vamos perdoe!

— Perdôo, sim; boa menina... Você sempre vale mais do que seu pai...

— Oh!...

— Onde está o Alfredo?

— Aqui perto; vamos lá; dê-me o seu braço...

Chico Teles, saiu, dando o braço à nora.

Estas cenas simultâneas, arranjadas pelos dois recém-casados, devia ser seguida de outra, tendo por teatro o largo da matriz.

Ali com efeito apareceram, de pontos diversos os dois pais; Teles e Tobias enfiaram, mas caminharam sempre até formarem um só grupo.

Aí Teles abraçou o filho, Elisa o pai.

Depois, os dois casados abraçaram-se; os dois pais com ar suficientemente esquerdo, assoviavam e olhavam para o céu.

— Então que fazem? perguntou Elisa. Vamos, um aperto de mão... Reconciliem-se...

Os dois velhos recusaram; mas tais eram as instâncias, tanto pediam, que não tiveram remédio, e as mãos dos dois adversários confundiram-se num aperto significativo.

Dali foram para casa de Chico Teles, que deu um jantar aos noivos, convidando para isso as primeiras autoridades do lugar.

Mas nem tudo são flores. Estavam à sobremesa, alegres e felizes, no meio das saúdes e protestos de amizade, quando o correio entregou um ofício a cada um dos velhos.

Era o presidente da província que, depois de um histórico dos fatos anteriores, mandava demitir Chico Teles, e suspendia Manoel Tobias.

Caiu-lhes o queixo; e esta desgraça súbita foi o que tornou então indissolúveis os laços da amizade.

E assim que termina a história do subdelegado Chico Teles e do juiz de paz Manoel Tobias.