Eu vejo em toda a terra um vasto cemiterio,
A necrópole immensa, a campa dos colossos,
Aonde em paz descansa o velho megatherio,
Por entre a fauna morta, os carcomidos ossos!
E os grandes leviathaãs dos primitivos mares;
Os tremendos reptis, crueis, descommunaes,
Celebram no silencio as nupcias singulares
Dos seus residuos vis, com ricos mineraes!
E os esqueletos nús dos lividos gigantes
Abraçam-se melhor; conchegam-se na cova,
Deixando um logar vago aos velhos elephantes
Que vão fugindo á luz da natureza nova!
Tambem no mundo interno as almas vão seguindo.
Na corrente da vida, em mil circulações;
E da consciencia humana o largo abysmo infindo
Occulta, ha muito já, disformes creações!
Ellas dormem na sombra immensa do passado
Aonde em breve hão de ir nos trances doloridos,
A velha Realeza e o trémulo Papado
Sem forças descançar os corpos corrompidos.
Depois virão mais tarde as gerações futuras
E os dois espectros vãos da sombra hão de evocar,
Bem como a nossa voz, as grandes creaturas
Do mundo primitivo, obriga a despertar.
E as crianças terão seus nomes de memoria,
Como exemplo, na vida, a todos os momentos;
E vel-os-eis de pé, nas paginas da historia,
Grotescos, machinaes, pezados, somnolentos;
Fazendo-nos pensar; d'espanto enchendo tudo;
Soffrendo o riso alvar do ingenuo e do plebeu,
Eguaes ao masthodonte armado para estudo
E exposto ás irrisões nas salas d'um museu!