"Padre Bartolomeu Lourenço de

Gusmão, inventor do aeróstato,

morreu miseravelmente num

convento, em Toledo, sem

ter quem lhe velasse a agonia."

Em Toledo. Lá fora, a vida tumultua

E canta. A multidão em festa se atropela...

E o pobre, que o suor da agonia enregela,

Cuida o seu nome ouvir na aclamação da rua.

Agoniza o Voador. Piedosamente, a lua

Vem velar-lhe a agonia, através da janela.

A Febre, o Sonho, a Glória enchem a escura cela,

E entre as névoas da morte uma visão flutua:

"Voar! varrer o céu com as asas poderosas,

Sobre as nuvens! correr o mar das nebulosas,

Os continentes de ouro e fogo da amplidão!..."

E o pranto do luar cai sobre o catre imundo...

E em farrapos, sozinho, arqueja moribundo

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão...

(As Viagens, X)