Antonina recebeu o noivo com a mesma alegria do costume. Marcondes agradou a todas as pessoas da casa pelo gênio galhofeiro que tinha, e apesar da tendência para os discursos intermináveis.

Quando, pelas onze horas e meia da noite, saíram de casa de Carvalho, Marcondes apressou-se a dizer ao amigo:

— A tua noiva é linda.

— Não achas?

— Decerto. E parece que te quer muito...

— É por isso que eu lamento ter escrito aquela carta, disse Amaro suspirando.

— Olha que parvo! exclamou Marcondes. Por que motivo há de Deus dar nozes a quem não tem dentes?

— Acreditas que ela responda?

— Se responde! Eu estou traquejado nisto, meu rico!

— Que responderá ela?

— Mil coisas bonitas.

— Afinal em que dará tudo isto? perguntou Amaro. Eu creio que ela gosta de mim... Não te parece?

— Já te disse que sim!

— Estou ansioso por ver a resposta.

— E eu também...

Marcondes dizia consigo mesmo:

— Era bem bom que eu tomasse para mim este romance, porque o palerma estraga tudo.

Amaro percebeu que o amigo hesitava em dizer-lhe alguma coisa.

— Em que pensas? perguntou-lhe.

— Penso que tu és um palerma; e sou capaz de continuar o teu romance por minha conta.

— Isso não! já agora deixa-me acabar. Vamos ver que resposta vem. Quero que me ajudes, sim?

— Pronto, com a condição de que não hás de ser tolo.

Separaram-se.

Amaro foi para casa, e tarde conciliou o sono. A história das cartas enchia-lhe o espírito; imaginava a mulher misteriosa, construía dentro de si uma figura ideal; dava-lhe cabelos de ouro...