Tenho cá dentro em mim um pássaro que salta,
Que não repousa, que não dorme noite e dia:
Quem dentro do meu peito acaso o prenderia?
Por que não canta nunca? e o que quer? que lhe falta?
De que estranho tormento ele vive? o que exalta
Sua existência, que não me deixa, e porfia?
As asas, que ele estende em mim, estenderia
Ao mais profundo mar, à montanha mais alta.
Se o cárcere rompesse, em que abismo medonho
De rojo cairia, o céu todo inda estando
Muito aquém da ambição que o devora: suponho...
Nesse vórtice louco acabas, miserando...
Ó coração, tu és um hóspede enfadonho;
Quando, abutre, hás de em mim não mais fartar-te? Quando?