Tempos de José Bernardo

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Futebolista com nível de Seleção,dono de rádio, plantador de trigo...

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José Bernardo Bertoli foi, sem qualquer dúvida , a personalidade mais singular de um Oeste paranaense tão repleto de singularidades. Sua família já havia sido pioneira em Santa Catarina e os irmãos Lyrio e José Bernardo vieram também dar sua contribuição ao desenvolvimento do Oeste do Paraná, na década de 50.

Ele foi um dos primeiros produtores de trigo da região, mas veio ao Estado do Paraná apoiado na sua formação profissional de advogado, na qual, embora tenha atuado com muito empenho, teve o brilho de sua atuação dividido com as inúmeras outras atividades que desenvolveu ­– inclusive a de jornalista e introdutor do que viriam a ser, hoje, os classificados de jornais como O Paraná.

José Bernardo também atuou na aviação comercial, ao lado do irmão Lyrio, e foi um dos primeiros proprietários da Rádio Colméia, a pioneira de Cascavel. Elegeu-se vereador aos 23 anos pelo PSD, em 1956, com 216 votos, o segundo mais votado da segunda legislatura, perdendo apenas para alguém que não poderia ser batido: o ex-prefeito José Neves Formighieri. Nessa legislatura tentou ser presidente, mas foi derrubado pelos próprios “colegas” de partido. Mesmo assim, foi vice-presidente e secretário da Câmara.

Mais: foi também secretário da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração; presidente da Cooperativa Agrícola Consolata (Copacol, de Cafelândia); presidente do Lions Clube; fundador do Cascavel Country Clube; e um dos heróis do Tuiuti Esporte Clube, o Leão do Oeste, no qual foi um dos mais festejados atletas e depois presidente da seção de futebol. O polivalente Bertoli conseguiu tempo ainda para ser professor no Colégio Rio Branco, hoje Marista.

Nascido em Taió (SC) em 20 de agosto de 1933, filho de José Luiz Bertoli e Amélia Trentini Bertoli, casou-se com Ieda de Lemos Bertoli, tendo três filhos ­- José Luiz Neto (médico), Danielle Maria (odontóloga) e José Eduardo (administrador de empresas). Mesmo sendo um sucesso em tudo o que empreendeu, a marca principal que ficou de José Bernardo Bertoli foi sua combatividade. Quem acha a Câmara Municipal de Cascavel muito agitada nos dias de hoje ficaria simplesmente estarrecido diante dos debates e das confusões que aconteciam nas décadas de 50 e 60.

Uma chuva de críticas e denúncias

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A segunda legislatura começou, em 1957, em meio a um fogo cerrado contra o ex-prefeito Neves Formighieri, que havia sido eleito para a Câmara Municipal. (Críticas a ex-prefeito por parte dos novos detentores do poder é uma velha mania local). O problema eram as contas da Prefeitura relativas a 1956. O mais agressivo contra Neves era o vereador Adelar Bertolucci, mas progressivamente José Bernardo Bertoli passou a dividir com Bertolucci (pertenciam ao mesmo PSD) o comando da bateria contra o PTB.

A bancada do PTB manobrou com sucesso e conseguiu fazer a Câmara parar até o mês de junho, começando por fazer sumir o livro de atas, em abril. Mas no inverno começou o rosário pessedista: recibos de combustíveis considerados frios no valor de, então, 1 milhão de cruzeiros apenas em 1956; “entrega de dinheiro” ao médico Wilson Joffre; “loteamento” e distribuição de terrenos da praça principal a parentes, amigos e compadres e condenações verbais muito pesadas.

Bertoli denunciou ainda a alteração de notas em favor da Companhia Sul-Americana de Eletricidade (“o preço de Cr$ 1.800,00 foi adulterado para Cr$ 5.800,00”). Também nas obras escolares Bertoli julgava haver má-fé: a contabilidade mostrava diversos recibos assinados pelos construtores das escolas, todos no valor de Cr$ 20 mil. E denunciava: “O construtor da escola de São Salvador disse ter recebido apenas Cr$ 1 mil e ter assinado um recibo em branco”.

Bertoli também denunciou que o conserto de um automóvel pertencente a Zacarias Silvério de Oliveira, o “Tio Zaca”, fora pago pela Prefeitura ao mecânico Frederico Oquete. Todas as evidências, segundo Bertoli, apontavam para “falta de honestidade, favores e marmeladas” às custas dos cofres públicos e do patrimônio municipal.

As contas foram rejeitadas nessa época, mas o ex-prefeito José Neves Formighieri comandou com muita habilidade a “banda de música” trabalhista e conseguiria transformar o limão das contas rejeitadas em limonada

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(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)