À minha carinhosa Mãe.

Creio em Deus e em minha Mãe,
E na terra em que nasci —
Os amigos me fugiram —
Eu já d’amores descri,

No meu sonho desta vida,
Outr’ora por mim tão qu’rida
Já perdi a illusão —
Tudo no mundo é vaidade —
Hypocrisia, falsidade,
E n’amizade traição!

Debeis sons de minha lyra;
De minha lyra tão nova,
Canta a minha desventura,
Em singella e triste trova.
Vistam gálas de tristura
D’atro fel d’amargura
Os meus cânticos de dôr —
Que só creio em Deus pod’roso,
E de Mãe o bondadoso —
Na terra unico amor!

Esses seios virginaes —
Esses labios de carmim —
Que tanto cantara os Poetas
Não nos quero para mim : —
Eu já nelles tive crença,
Mas apóz atra sentença
Sobre mim impios lançaram;
Fui amado e bem querido,
Mas que amor tão fementido,
Foi o amor que me juraram!

Louco ousei acreditar
Nesses olhos de condão,
Que ás vezes mudos fallam
Dentro d’alma e coração.
Amei! — mas qu’importou,
Se ella infida renegou,
Com prejurio, com traição!
Creio em Deus, e em minha Mãe,
E na minha terra tambem —
Que de mim tem compaixão!

Riquezas? — Eu já as tive —
Nos meus tempos de outr’ora,
Hoje só a desventura
Incessante me namora.
Nunca contei inimigos,
Com ellas já tive amigos
Tão falsos como ellas são, —
Que sorriam á luz do oiro —
A só virtude e thesoiro
Deste mundo d’illusão!

Descrido assim no mundo,
Tenho só Deus — Mãe — e Patria —
Que mais quero nesta terra,
Onde a ventura é tão varia?
Heide pois cantar amores,
Que nunca digam rigores

Que nunca digam traição! —
Creio em Deus e em minha Mae,
E na minha terra tambem,
Que de mim tem compaixão!