A causa que pleiteavam no coração de Honorina a natureza e o amor, continuava indecisa; porque a sentença tinha sempre de ser um martírio para o juiz. Os litigantes combatiam-se mutuamente com as armas da generosidade; e, talvez a próprio despeito, quando queriam ceder o campo, ainda mais avançavam.
O pai dizia à filha: — não te sacrifiques!
O amante dizia à amada: — salva a teu pai, e esquece-me!
E, se ao morrer de um dia uma carta do moço loiro, na qual ele parecia renunciar a esperança de felicidade, era justamente o que mais em seu favor argumentava, e plantava na alma de Honorina novos direitos a essa esperança; na manhã do outro a prática havida entre Hugo e sua mãe; o voto solene, que fez o extremoso pai de não só não querer, como também de não consentir o menor sacrifício do coração de sua filha, apesar da pobreza e da desgraça que o esperavam, dava dobrada força, enchia de interesse e de ardor a causa da natureza.
E, pois, Honorina, hesitando sempre, lembrou-se, como tantas vezes, da sua fiel amiga; e, acreditando que seus conselhos lhe eram mais que nunca necessários, escreveu-lhe depressa estas poucas palavras:
"Raquel: eu preciso de ti ao pé de mim, como um pecador moribundo precisa ter junto de si um padre compassivo e sábio; faze por ver-me quanto antes; dize a teu pai que eu estou muito doente, ou dize o que melhor te parecer; eu quero pedir-te conselhos, contar-te muitas coisas tristes, e falar-te a respeito... dele."
Honorina tinha errado; porque não compreendia o que também se estava passando no coração da sua amiga; se Honorina não tivesse concluído o seu bilhete com as palavras — falar-te a respeito... dele — abraçaria sem dúvida a Raquel muito depressa; porém, para ouvir falar a respeito... dele, é duvidoso que Raquel se apresse.
No fim de duas horas, Lúcia foi entregar a Honorina a resposta que tinha chegado de Raquel.
A moça abriu o papel e leu tristemente: "Honorina: eu estou muito doente; é-me impossível ir ver-te agora; verei se o posso fazer à noite."
— Pobre Raquel! disse Honorina; mãe Lúcia, é porque ela está na verdade doente.
— Mas, enfim, como promete vir à noite...
— Contudo, esperar até à noite é muito para quem se vê no meu estado!
— Eu pensei que a primeira carta da Sr.ª D. Raquel havia-lhe consolado um pouco...
— A primeira carta?...
— Sim; aquela que ontem lhe entreguei na saleta do terrado.
— Ah! sim... é verdade: a primeira carta... pois exatamente por causa dela precisava eu ter junto a mim uma amiga que me aconselhasse...
— Então... eu...
— Mãe Lúcia... tu és um pouco suspeita; quando em qualquer questão aparece o nome de meu primo...
— Paciência, Sr.ª D. Honorina.
— Oh! paciência?... de paciência careço eu, e de muita, porque, com efeito, é terrível a minha posição!... eu sinto andar-me a cabeça à roda... tenho no coração uma ansiedade inexplicável... eu preciso falar... dizer o que sofro a alguém que me estime, e que me aconselhe... oh!... como é bom ter uma amiga ao pé de si!... neste momento Raquel... uma amiga seria a meu lado como um anjo!...
— Mas eu creio que batem palmas na escada...
— Se fosse Raquel!... mãe Lúcia, vê quem é...
Uma escrava bateu de manso na porta do quarto de Honorina e anunciou a Sr.ª D. Lucrécia.
— D. Lucrécia!... exclamou a moça.
— Que a vem visitar, disse Lúcia.
— Quando eu pedia ao céu uma amiga!...
— A senhora não quer ir recebê-la?...
— Não, mãe Lúcia, Lucrécia não é de cerimônia; faze-a entrar para aqui.
A bela viúva chegava a propósito: Brás-mimoso, que viera cumprimentar pouco antes as senhoras, voltara assustado com o aspecto melancólico de Ema, e para logo fora dar conta do que observara à sua interessante protetora.
Lucrécia correu imediatamente ao posto que lhe convinha: as lágrimas de uma rival agradam muito ao paladar da mulher ciumenta; e de mais, quem sabe se a despeitada viúva não poderá tirar partido da posição de Honorina?...
Lucrécia não hesita, e se apressa a descobrir campo.
Apenas entrada no quarto, ela aperta Honorina em seu braços e exclama:
— Meu Deus!... tu tens chorado, D. Honorina!
— Muito! muito, D. Lucrécia; porque eu sou bem desgraçada!
— Oh! mas tu me devias ter feito chamar para consolar-te... por ventura não te tenho eu pela minha melhor amiga?... aposto que mandaste buscar D. Raquel?...
— É verdade... mas perdoa.
— Perdôo-te de todo o meu coração, pois que sois amigas da infância: é tão doce uma amizade dos primeiros anos!... eu também amo muito a D. Raquel, porém onde está ela?...
— Não pôde vir... desgraçadamente se acha doente...
— Oh! jamais se está doente para acudir a uma amiga que chora!...
— D. Lucrécia, Raquel não mente!
— Esqueçamos isso, continuou a viúva; não veio ela, mas aqui estou eu; vamos, D. Honorina, que querem dizer essas lágrimas?
Honorina estremeceu; como sempre, apareceu no espírito da moça a desconfiança que lhe inspirava Lucrécia; havia no coração de Honorina talvez um pressentimento de que aquela mulher lhe seria falsa; mas ao mesmo tempo esse coração estava tão cheio de mágoas, esse espírito tão repleto de temores, de dúvidas, de amor e de piedade, que por força tinham ambos de esvaziar-se no seio de alguém.
Portanto, depois de muito tempo de hesitação e de vivas instâncias da viúva, Honorina, abaixando os olhos, disse:
— Antes de tudo, tu me deves perdoar uma falta, D. Lucrécia.
— Uma falta? perguntou a viúva fixando na moça vistas perscrutadoras, e qual é?...
— Eu não te tenho dado toda a minha confiança... até agora te ocultei o meu único segredo.
— Eu o sabia... eu o adivinhava...
— D. Lucrécia... eu amo... há muito tempo...
— Sim... bem... e então?
Honorina derramou toda a relação de sua inocente paixão no seio da viúva, como um licor doce e cristalino, que gota a gota se deixa cair em um vaso impuro.
Lucrécia escutava atentamente a história daquele amor já tão adiantado, e tão terno, e que ela mal tinha suspeitado na noite do canto à sombra da mangueira e na seguinte tão tempestuosa e terrível. Oh! a vaidosa viúva teve inveja desse amor de homem misterioso e devotado, que se metamorfoseava em tantas figuras, que aparecia inopinado em tantos lugares, que velava tantas noites, que assoberbava a mesma morte por uma mulher; ela sentiu que esse homem valia mil vezes mais do que Otávio; e ouviu, com inveja ainda, essas doces e imutáveis palavras de seus singulares escritos; palavras que semelhavam um mote guerreiro inscrito no escudo de amoroso cavaleiro de prisca idade.
Honorina não esqueceu nada; tudo quanto com ela se passara e se estava passando confiou à falsa amiga: as pretensões de Otávio, a sua resposta, os desejos de sua avó, o propósito de seu pai, as cartas de seu primo, tudo foi revelado.
E, quando terminou sua tão longa narração, Honorina respirou mais livremente, e, como esperando um conselho, levantou os olhos e os fitou no rosto de Lucrécia, que, pensativa, tinha os seus esquecidos sobre o tapete, que se achava estendido aos pés do leito da moça.
Em que pensava ela?... já uma vez o dissemos: a mulher não detesta a sua rival pelo amor que pode ter ao seu amado, mas antes pelo amor que lhe vota ele; merecer mais que ela é o crime; e embora não deseje, não faça por merecer, o suposto crime existe e o castigo se forja.
Também já uma vez o dissemos: — vençamo-la! — é o grito de guerra de uma rival.
Lucrécia não tinha, mesmo ouvindo na confissão de Honorina o quanto esta desprezava Otávio, esquecido seus desejos de vencê-la rebaixando-a... pondo-a, se possível lhe fosse, ainda abaixo de seus pés diante do homem que dela se esquecera por Honorina.
Estudando a relação que acabara de ouvir, Lucrécia tinha ante seu espírito três pretendentes à mão de Honorina; nada disto, nenhum deles lhe agradava: a mulher que se casa nunca se rebaixa; o casamento é sempre um triunfo da mulher; portanto, era preciso afastar a moça de todos eles.
A miséria de Hugo de Mendonça já era alguma coisa; mas não tudo. Honorina podia ficar nobre e virtuosa, mesmo nas garras da miséria, e Lucrécia compreendia perfeitamente que uma moça bela e sempre virtuosa no meio das privações da pobreza é como uma flor do céu caída na terra, como um pensamento de Deus perdido entre os homens... é a verdadeira angélica virtude.
Depois de muito refletir o costumado e doce sorriso de seus lábios, apareceu; dir-se-ia que a viúva tinha achado uma tábua de salvação para Honorina; e ela havia somente entrevisto um caminho que a podia levar a profundo abismo.
— E então, D. Lucrécia!... pensas que já não há esperança de felicidade para mim?...
— Oh!... não; eu estava pensando em outra coisa: lembrava-me de uma cena que se passou comigo, quando trataram de casar-me, e que se parece muito com o que sucede contigo; queres ouvi-la?...
— Se o julgas conveniente...
— Quando quiseram casar-me, eu tinha dezesseis anos... era, pois, da tua idade; não contava como tu pai e avó, mas em compensação tinha mãe e tio; amava em segredo a um moço, como tu amas; pois bem, a minha mãe e meu tio descobriram o meu amor, não o aprovaram, e, para melhor combatê-lo, fingiram ignorar sua existência; quem sabe, D. Honorina, se te sucede o mesmo?...
— Não... não.
— Também eu não digo que sim: mas escuta. Um dia, veio um senhor pedir-me em casamento... compreendes que eu fiz como fizeste, disse que não; vês como se têm assemelhado nossos destinos?...
— Sim... prossegue.
— Passado algum tempo, minha mãe se me apresentou aflita e chorosa... leu-me a sentença de um tribunal que lhe fazia perder metade ou quase todos os seus bens em favor de um primo meu... esse primo amava-me também e exigiu ou a minha mão, ou o que lhe pertencia... ora, não vês como continuam a parecer-se nossas histórias?... há apenas uma troca de papéis; porque contigo é teu primo, que aparece como salvador, e comigo sucedeu que foi o meu primeiro pretendente quem escreveu à minha mãe, oferecendo-se para salvar-nos...
— E depois?...
— Estava o tal meu primo disputando na sala com minha mãe e meu tio, e uma escrava disso me avisou. Fui escutá-los: meu tio defendia as pretensões de seu sobrinho, e minha mãe jurava que antes queria ver-se reduzida à miséria do que obrigar-me a casar com esse meu primo, a quem eu também já havia rejeitado; esta é uma pequena dessemelhança entre nossas histórias...
— E finalmente?...
— Lembrou-se o meu primeiro pretendente... meu tio gritou contra ele, minha mãe falou a seu favor, mas jurou que nem com esse me obrigaria a casar; depois pintaram a miséria com horríveis cores... minha mãe, D. Honorina, falou como teu pai... estava chorando; quando eu caí em seus braços, e para salvá-la da pobreza, esqueci meu amado e casei-me com o homem, de quem hoje sou viúva.
— E portanto...
— Espera, disse Lucrécia interrompendo a moça, ainda não acabei a minha história: três dias depois do meu casamento conheci que tinha sido vítima de uma traição; não havia sentença contra nós; meu primo se tinha conciliado amigavelmente com minha mãe em obséquio a meu marido, de quem era amigo; para servi-lo, ajudara a tramar a intriga, fingindo querer casar comigo; e três dias depois veio à nossa casa beber um copo de vinho à saúde dos noivos.
— E tua mãe, D. Lucrécia?...
— Minha mãe queria tornar impossível assim o meu casamento com o homem que amava em segredo.
— Oh! D. Lucrécia, também nisso diferem nossas histórias, porque meu pai nada suspeita do meu amor; e ainda que tudo soubesse, tal não era capaz de fazer, porque meu pai é meu pai.
— D. Honorina, também minha mãe era minha mãe.
— Mas o que tu pareces querer fazer-me pensar é uma injúria que eu não sofrerei que se faça a meu bom pai e a minha avó!...
— Meu Deus! D. Honorina, eu não te quero fazer pensar coisa alguma contra teu bom pai e tua avó! eu não fiz mais do que contar-te a história do meu casamento.
— Que tanto assemelhaste à minha, D. Lucrécia!
— Isso não partiu de mim: é filho do acaso.
— Mas eu te pedia conselhos... e tu me contaste uma história.
— Donde podias tirar bons conselhos, D. Honorina.
— Outra vez!...
— Eu não sei dizer às minhas amigas senão a verdade, embora cruel: eu vejo que te pretendem fazer vítima de uma intriga...
— D. Lucrécia!
— Não compreendo como se possa ser na praça um rico e feliz comerciante, e em casa um negociante falido!...
— Basta!... eu não devo, eu não quero ouvir o que a senhora diz!...
— Pois bem! eu cumpro meus deveres de amiga; tu, D. Honorina, sacrifica-te! escuta tudo o que te fazem ouvir detrás de uma porta... entrega-te ao homem que te indicarem... a esse Sr. Otávio, ou ao outro, que de longe te requesta, e te persegue sem te ver, sem te amar... e, no entanto, esquece aquele que tanto te idolatra...
— Oh! basta!... basta pelo amor de Deus!...
— Esquece aquele que por ti vive e vela sempre... aquele que te ama com um amor tão novo, tão singular e tão belo... que por ti expôs sua própria vida...
— D. Lucrécia... compaixão para mim!...
— Não! não!... compaixão para ele!... para ele, pobre moço, que tudo devia confiar de tua constância, e que em breve terá de marcar o teu nome, como ainda um novo exemplo da volubilidade do nosso sexo!...
— Mas quando eu digo que o amo, que o adoro!...
— E que amor é esse, D. Honorina, que não é capaz de nenhum extremo, de nenhum sacrifício pelo objeto amado?... que chama é essa que cede a tão fraco sopro?...
— Que cede a tão fraco sopro?... D. Lucrécia, sabes o que é ser ou foste o anjo querido de teu pai?...
— Nossos pais?... nós lhe devemos tudo certamente; mas talvez que, cegos por seu amor, temerosos por nosso futuro, todos eles nos julgam muito imbecis para escolhermos um esposo; e quase sempre supõem indigno de nós o objeto de nosso amor; queres exemplo?... aí tens a vida, o destino da totalidade das mulheres aqui me tens a mim; e, finalmente, aí te tens a ti.
Honorina viu o rosto de Lucrécia animado e cheio de fogo; e ingênua que era, não compreendeu que há também entusiasmo no crime.
E Lucrécia, hábil e astuta, soubera ferir a corda sensível do coração da moça que atraiçoava: tocando no seu amor, mostrando-se inflamada e viva na defesa do moço loiro, tinha roubado a atenção e prendido o espírito de Honorina. Com a eloqüência e finura que lhe haviam dado o trato e a vida cortesã, foi levando a inocente moça passo a passo até o ponto onde queria dar-lhe o último golpe; encheu até as bordas um copo de horrível veneno, que lhe deveria deixar para beber; só quando tinha esgotado os mais capciosos argumentos, os mais detestáveis e perigosos sofismas, foi que, fingindo-se fatigada, calou-se, e respirou arquejando.
— Mas em conclusão, perguntou Honorina, que devo eu fazer?... o que me aconselhas?...
— E para que um conselho, se não estás disposta a segui-lo?... se ainda há pouco me mandaste calar?...
— Perdoa; porém eu não podia ouvir falar contra meu pai.
— Pois então obedece-lhe em tudo.
— Oh!... mas isso é uma impiedade!... quando eu te peço um auxílio de amizade.
— Pois bem... eu acho um meio.
— Dize-o.
— Ouve-o; das duas uma: ou tu és vítima de infernal trama, ou não; há um recurso, mercê do qual podes escapar à intriga, e não perder a estima pública.
— E qual?...
— O seio de Deus.
— Eu não compreendo...
— Julga-se sempre mal de uma mulher que foge de seu pai para entregar-se aos cuidados de outro homem; mas ninguém pode maldizer a que se arranca da casa de seus pais para abrigar-se à sombra dos altares do Salvador do mundo.
— E então... eu tremo!...
— Cumpre fugir e entrar em um convento.
— Fugir de meu pai?...
— Deus está acima dos pais...
— Fugir de meu pai?...
— Sim; mas para entrar logo em um convento.
— O que tu me aconselhas, D. Lucrécia, se assemelha muito a um crime!...
— Crime, buscar a casa do Senhor?! D. Honorina, tu desarrazoas. Ouve-me: saindo da casa de teu pai, tu lhe deixas uma carta em que declaras a resolução que tomaste, e o lugar onde foste procurar um abrigo; aí, se foi uma cilada, que contra ti forjaram, e teu pai te ama, esperas o seu perdão e sais depois nobre, cândida e pura, como entraste, para ser esposa do teu interessante e misterioso amado; e se é uma realidade o que se passa aqui, tu ficas no convento, e nem te sacrificas, nem te tornas pesada a teu pai.
— Não, D. Lucrécia, fugir de meu pai, não, não!...
— Oh! pensa bem no que vais fazer, minha querida amiga; lembra-te que, com a inconstância deste mundo, podem em pouco tempo estar mudadas todas as cenas que hoje tão tristes se apresentam; é possível, é mesmo provável que o Sr. Hugo de Mendonça se reabilite no comércio; não seria nenhum milagre vermos esse moço loiro aparecer inopinadamente rico, feliz e alegre; a fortuna é assim, inesperada, imprevista sempre!... vê, pois, o que te cumpre, D. Honorina: pensa que para esperar a fortuna se faz preciso fugir desta casa; aqui há perigo... aqui tu não terás força para resistir às lágrimas de teu pai!
O veneno ia pouco a pouco escoando pelos ouvidos de Honorina; a pobre moça escondeu o rosto entre as mãos, e, derramando torrentes de lágrimas, exclamou por entre soluços:
— Não! D. Lucrécia; fugir de meu pai, não!... não!...
— Pois bem, faze o que te convier, D. Honorina; sacrifica-te... com teu sacrifício imola... mata esse pobre moço que te salvou; porque é preciso dizer que um homem que ama como ele, não sobrevive à morte de seu amor!
— Oh!... D. Lucrécia!...
— No entretanto, eu cumprirei o dever de amiga: se te resolveres a seguir os meus conselhos, escreve-me esta simples palavra — sim! — eu farei o resto; às dez horas da noite em ponto esperar-te-ei em uma carruagem a vinte passos do portão desta casa, e do lado da minha; conduzir-te-ei ao convento, para cuja entrada darei com o maior segredo todos os passos, esta tarde; se me não responderes até às duas horas, voltarei a ver-te. Adeus!... pensa e resolve-te!
Lucrécia levantou-se e despediu-se de Honorina, que, ao vê-la sair do quarto, exclamou ainda:
— Não!... D. Lucrécia, fugir de meu pai, não!... não!...
Às duas horas da tarde uma escrava de Lucrécia entregou-lhe um pequeno bilhete, que fora trazido por um pajem, que para logo se retirara sem cuidado de resposta.
A viúva abriu com impaciência o bilhete, e sem poder ocultar infernal prazer que lhe transluzia no semblante, murmurou arrastando-se por cada uma sílaba das frases:
— Vingo-me!... venci!...
No bilhete estava escrita uma única palavra:
— Sim.